FANFARRONADA
Dimas Costa
Pois num fandango lá no
rancho
do Maneco Claudino
eu me meti num buchincho
e que buchincho, menino.
Mas a culpa não foi minha,
foi dum tal Pinto Mariano
um índio velho aragano
que tava cuidando a entrada.
Um macricela
comprdo
que por ser muito atrevido
eu mesmo de certa feita
já lhe dera umas trompadas.
Por isso ele bem sabia
que eu era índio levado
buchincheiro, mal
domado
e que brigava também.
Mal me viu ali na frente,
gritou, o rancho está cheio
e me olhando assim desgueio.
Não entra aqui mais numguém.
Eu parei, quebrei num tapa,
o meu chapéu sobre a testa.
e gritei, só quem não presta
que se deixa de fora,
eu sou torito que atropela
e não é qualquer porqueira
que ma ataca na porteira,
eu entro e danço de esporas
Roncou-lhe o diabo nas tripas
e o índio mal assustado,
se abriu assim para o lado
eu meti os encontros e entrei.
puxei o trinta pra frente,
arrastei uma chinoca
e disse, gaiteiro ,toca!
Juntei a china e dancei.
A minha espora, fez tirrimmmmm
sobre o chão duro da sala.
As franjitas
do meu pala,
riscava os queixos das velhas
que sentadas pelos cantos
foram logo alevantando
medrosas adivinhando
que não tardava a peleia.
Eu juntava a prenda assim,
penerando uma
rancheira.
Dessas que levanta poeira,
quando não se molha o chão.
De repente enrredo a espora,
a chinoca se atrapalha,
rasguei-lhe a barra da saia
e ainda sangrei-lhe o garrão.
Houve um murmúrio na sala,
a indiada se alvorotou.
A china charomingou
e as velhas votaram enguisso.
eu gritei, o sangue estanca,
não foi nada, não faz manha,
se bota telha de aranha
e da sai eu pago o prejuízo.
E puxando da guaiaca,
fui também me recostando
porque a indiada, me marcando,
parecia camuatim.
Numa destas o tal Mariano
deu um grito! È desaforo!
e já foi aquele esturo
e já se vieram comtra mim.
Puxei o trinta ligeiro
dei um tiro no lampeão,
deixei a sala no escura
e foi aquela confusão
arranquei do meu facão,
pra garantir a querada.
e fui picotiando na frente
procurando uma escapada.
E eu sentia na crezada
que pisava em gente morta.
E era faca, e era bala
e era só moça chorando
e as velhas gritando
meu Deus eu não acho a porta.
E derrepente
eu me encontrei
na frente duma janela
me fui a rua por ela
e me fui ao fundo da orta.
E pra lhe encurtar o causo
foi tão braba essa peleia.
Foi tão feia, mas tão feia,
que até é perigo contar.
Pois quando vieram os
milicos,
segundo depois contaram,
pra prender, nada encontraram,
só defunto pra enterrar.