FANFARRONADA DOIS
Dimas Costa
Atei a cola do pingo
bem em cima, a canta-galo,
e ou tranco do meu cavalo
me toquei para um farrancho.
Era um baile lá num rancho,
ao som duma oito baixo,
num socavão, lá em baixo,
nos campos do Zé Carancho.
De longe eu já avistei
que quem tava da porteira,
era um tal de Zeca Bueira
Com quem eu tinha uns ajuste.
E já sentindo o cutuco
comecei a decidi:
-Eu vim pra me diverti.
-Eu entro custe o que custe!
Nem bem o índio me viu
já encrespou o tupete.
E correndo a vara do brete,
já me atacou na porteira.
E aos gritos-
entra. Não entra.
prendi-lhe um coice na porte
e entrei de qualquer maneira.
Menino! Aquilo foi mesmo,
que um coice num formigueiro.
Espirrou para o terreiro
um tropa de boi e vaca.
Mal me sobrou uma tempito,
de dar um pulo pro lado
e já me senti cercado
num espinheiro de faca.
Era velho e era moço,
e era até a mulherada,
gritando que dava medo
querendo acabar-me a estampa.
E a coisa ficou mais preta
do que dedo destroncado.
E me vi mais apertado
que um rato numa guampa.
Mas como numca me assusto,
e o eu faço me garanto,
me encomendei ao meu Santo
e arranquei das “garantia”.
E já abriu-se
uma clareira
na ponta do meu facão.
E foi aquela confusão
e só gente que fugia.
Ficaram só dois valentes,
dispostos a me experimenta.
Mas foi toma lá e dá cá
e um deles já despachei.
Mas o outro era um índio
que não cozinhava cedo
e eu senti não ser brimquedo
na primeira que lhe dei.
Se atraquemos mano a mano,
descendo por uma rampa,
batendo guampa com guampa
a luz de um lindo luar.
E que peleia
bem linda.
(Pra quem olhasse distante)
Era o Rio Grande vibrante
na arte de se pelear.
E assim, terceando
o ferro,
ficamo uma hora e
tanto.
E ao ver que nem por encanto
se decidia a parada,
baixemo o ferro um
instante,
e compreendendo a bobagem,
num gesto de camaradagem
rompemo numa
gargalhada.
Ele moço e eu também
na verdade, de fato,
ele entrou foi de gaiato
no meio da brincadeiro.
E abraçados como amigos,
voltamos lá pro farrancho,
disposto a entrar no rancho
de qualquer jeito ou maneira.
Mas a indiada sem vergonha
já tinha até olvidado,
e todo o mundo acanhado
dançava ao som da cordeona.
Mas quando viram dois machos,
deixam-nos ir entrando
e logo fumo dançando,
cada um com uma dona.
Me pediram até desculpas,
pois já tinham compreendido
que fora um mal-entendido
que dera aquela bobagem.
E assim, ganhei um amigo
e fiquei a noite inteira
dê-le baile e bebedeira,
na paz da minha coragem.