ESTÓRIA DO CUSCO
Dimas Costa
Eu tive um cusco oveiro,
meu cusco de estimação.
Ganhei-o lá numa estância,
presente dum velho peão.
Que ao me dar disse, mui sério;
Leva esse bicho pra ti,
mas só te peço, guri,
cuida dele como “irmão”!
Que bicho esperto é o
cachorro.
Logo o cuscuito
oveiro,
ao ver que tinha outro dono,
já me seguiu, mui faceiro.
Parando em meu caminho,
como entendendo a razão,
latiu choroso pro peão,
como um adeus derradeiro.
Eu não sei se é o sentimento
que cria tanta ilusão,
mas em verdade lhes digo
que eu vi, naquela ocasião,
um choro de despedida
naquele cusco latindo
e uma lágrima caindo
dos olhos do velho peão.
E lá se “fumo”. Brincando,
eu e o cusquito oveiro.
E que grande companheiro
foi pra mim esse animal.
Brigava até com um “bordogui”
quando me via ameaçado,
andava sempre ao meu lado,
como um “ermão”, afinal.
O lindo ra vê-lo pulando
caçando pereá, no banhado,
ou atraz de alguma lebre
Então pra caçar tatu
o cusco era uma brasa.
Trazia o bicho pra casa
e de jeito muito apertado.
Um dia ele foi mordido
por uma cobra asquerosa.
Daquelas
bem venenosa,
uma “cruzeira” machaça.
Pois não morreu. Se curou,
apenas com benzedura
e aquela velha mistura:
cipó milomi...e cachaça.
Morreu de velho, o meu cusco,
surdo, cego e rabão.
Mas sempre fiel ao seu dono.
E vou dizer de coração;
Embora alguém ache graça,
quando em verdade eu digo,
foi o meu melhor amigo
e eu o queria como “ermão”.