ESTÓRIA DE UM GAÚCHO TRISTE

Dimas Costa

 

Voltou assim como quem volta

no mas para voltar.

Não tinha cor mais nos olhos,

nem sonhos no coração!

Trazia matas no lombo,

dos bastos duros da sorte.

Era uma alma vencida

pelas agruras da vida,

buscando as sombras da morte!

 

Por isso ao tombar o cerro

sofrenou o pingo cansado,

quebrou o chapéu na nuca

e bombiou além dos ranchos,

mas não sentiu emoção.

Não tinha cor mais nos olhos,

não tinha mais nem um sonho

no fundo do coração!

 

Foram esprimidos os anseios,

de vitórias, de grandezas,

que enchiam aquele peito,

quando um dia ele partiu...

pensou que além daquelas plagas,

havia um novo Jarau,

onde riquezas e luxos,

estavam só a esperar

que lá fosse um novo Blau...

 

Mentira! Nem uma princesa

lhe deu afeto de amor!

e nem mesmo um só cristão

lhe abriu as portas do mundo,

embora, humildemente

andasse ao léu, repartindo,

LAUS’ SUS-CRHIS’, A TODA GENTE.

 

Por isso voltava, agora,

um oco de sentimentos!

Nem mesmo os verdes dos pastos,

o cheiro da terra crua,

despertou naquele peito,

um suspiro de saudade.

Era um fantasma fugindo

das tumbas lá da cidade!

 

 

Depois montou novamente,

e foi rumbiando pra estância.

Foi procurar uma chaga

pra viver mais um pouco,

pois em nada achava graça!

Recebeu-lhe a cachorrada,

com latidos agressivos.

O estancieiro veio ver

quem chegava aquelas horas

que era hora de trabalho

e a peonada fora toda

recorrer as invernadas.

 

Saudou, com muito respeito,

o dono daquele mundo,

um moço que ali estava

mais em férias do que morando,

deu-lhe a changa e ele ficou

como um peão igual aos outros,

diferente dos outros,

não falava quase nada.

Só fazia o serviço

pra cumprir a obrigação.

Não tinha cor mais nos olhos,

nem sonhos no coração.

 

Um dia, estorou a guerra,

e ele foi como outros foram,

sem saber porque é que ia.

Peleou com muita bravura,

nos primeiros entreveiros,

mas no segundo encontrou

o que a muito ele queria:

Foi quando em carga de lança

atropelou um inimigo.

Mas, talvez porque achou,

que chegava de viver,

abriu o peito a vontade

pra lança que vinha em riste.

 

Um corpo ergueu-se nos ares,

num suicídio diferente.

Era um gaúcho a morrer,

pra morrer dum vez...

E acabou-se finalmente,

A ESTÓRIA DE UM HOMEM TRISTE!