CHIMARRÃO
Dimas Costa
Levanto sempre cedito,
bem na penumbra do dia
e embebido na poesia
duma xucra inspiração;
depois de ter preparado
de erva de fina flor,
eu abro o peito ao amor
tomando meu chimarrão.
Que companheira querida
é a cuia do mate amargo;
segurando-a com afago
no aconchego da mão,
até parece3 sentir-se
um seio moreno,quente,
aquecendo o peito da gente
juntito do coração.
E na espuma que se forma
de burbulhante mil cores,
reflete-se tantos amores
deixados pelo rincão,
quando em muitas campereadas
um moço mui caborteiro,
andou colhendo folheiro,
mil promessas e ilusões.
E a cuia sendo palmeada
parece ficar macia.
E mornita
acaricia
a mão, que é uma coisa louca.
E o sabor do amargo,
em cada golito quente
um beijo quente na boca.
E assim é que o mate amargo
tem muito de pago e china.
E a tradição que se ensina
que o chimarrão, no passado,
foi erva amaldiçoada
e por isso foi queimada
por um conselho sagrado.
Mas o gaúcho que vivia
solito e sempre
andejo,
sem carinho, sem o beijo,
da sua prenda adorada,
fez do mate a devoção
pra na bomba, em cada trago,
sentir o saudoso afago
dos lábios da sua amada.
Por isso que a seiva verde
que a gente bebe bem quente,
é como o sangue fervente
jorrando de um coração,
que se infiltra pelas veias
dos que, por certo mateando,
vão ainda conservando
a crioula tradição.