BORRACHO
Dimas Costa
Borracho! Era como me
chamavam,
E tinham toda a razão!
Beber era uma devoção,
E eu vivia embriagado.
Sobre o balcão do boteco
Eu passava a noite inteira,
Metido na bebedeira,
Com borrachos emparceirado.
E quantas noites de frio,
Num banco duro de praça,
Encharcado de cachaça,
Sem saber o que fazia;
Me arrojava como um trapo,
Como um mendigo, atirado,
Despertando estonteado,
Já quase ao surgir do dia.
E em casa a filharada
Abandonada, penando,
E uma mulher me esperando,
Debruçada na janela.
Benta mulher! Uma santa!
Sem querer exagerar:
Uma gruta, um altar,
Era pouco para ela.
E no final da embriaguez
Um sentimento profundo
De ódio e rancor do mundo
Me consumia o viver.
Mas para buscar alívio
Ao meu estado de alma,
Eu só encontrava a calma,
Quando voltava a beber.
E assim, foram os dias e
anos,
E eu fui borracho, viciado.
Um infeliz, desgraçado,
Vencido pela bebida!
Não tinha nenhum prazer
A enfeitar minha existência,
Era como uma penitência
A marcar minha vida.
Todos me olhavam com nojo,
Com desprezo e ironia,
Mas eu, bêbado, prosseguia
Nessa cruzada de louco.
Só um anjo me aguardava:
-Uma mulher - uma prenda -
Pra quem - Deus me compreenda
-
Um altar é muito pouco!
Um dia, eu nem sei como,
-Talvez por bênção divina -
Terminou a minha sina.
Como? Eu não sei dizer.
O mundo abriu-se em luz
Nas trevas da minha vida,
Tomei nojo da bebida
E, então, deixei de beber.
Hoje me olho no espelho
E falo assim comigo:
-Como mudaste,
amigo,
E como tudo mudou.
-Teu lar é um paraíso;
-Teus filhos hoje são gente;
E uma voz de repente,
Que me diz: e eu aqui?!
Minha mulher ri e chora,
E confesso,
envergonhado,
Não me atiro, ajoelhado,
Por ser homem e ser macho.
Mas estendo os braços, grito:
-Bendito sejam os meus!
-Graças aos céus, e a Deus,
Já não sou mais um borracho!