A Tradição

Dimas Costa



Venho dos fundos dos séculos,
Da eternidade, talvez.
Desde que o mundo se fez
No eclipse universal,
Eu já nasci pura e viva
No fundo do coração
Do ser que na evolução,
Era homem animal.

Na cavernosa existência
Do homem, quando surgia,
O meu nome já existia
Em santa veneração.
Pois mesmo recém formada
A massa da inteligência,
Guardava - se a reverência
De uma lei - a Tradição.

Eu sou, pois, eternidade
Que em cada povo persiste.
E quem diz que não existe
Em cada canto da terra,
A transmissão das heranças
No culto de amor e glória
Aos acervos da história,
Que na tradição se encerra.

Não há um povo no mundo
Que não tenha tradição.
E, mesmo na evolução,
Século a século, palma a palma,
Os povos guardam e veneram
Com respeito este meu vulto,
Pois um povo sem meu culto
Será um povo sem alma.

Mas às vezes no Rio Grande,
Que um dia elevou-ser altivo,
Num grito bravo, nativo,
Pra me defender, enfim,
Como um açoite, um agravo
Ao destino desta gente,
O ignorante, o descrente
Persiste em zombar de mim.

Onde estão os grandes homens
Que diziam que me amavam,
Que nos púlpitos pregavam
O amor ao meu conceito?
Onde estão os defensores
Da minha lei sacrossanta?
Ainda é “grosso” o que levanta
A sua voz para o meu preito.


Somente alguns, ainda bravos
Persistem em me cultuar,
Mas já não podem alcançar
A ressonância total.
Estão todos embebidos
Na fantasia, do canto,
E meu culto que era santo,
Hoje é um doido festival.

Mocidade evolutiva,
Que descamba pro pecado,
Meu destino está marcado
E um dia compreenderão:
Mesmo que virem os cérebros
Pra destruir a memória,
Na eternidade da história
Ficará a Tradição.