A LENDA DA TERRA GRÁVIDA

Dimas Costa

 

Quando a terra ficou grávida

para parir o homem,

enfeitou todo o seu corpo

com campos, matas e flores;

borboletas brancas ninfas,

animais livres, pacatos,

e pássaros de várias corres.

 

E as lágrimas de emoção

que a mãe natura chorava,

escorreram pelos seios

formando os rios e os mares.

E a terra ficou tão linda,

cheia de sons e cantares.

 

e nasceu então o filho,

e fez-se então a luz,

e o filho, o homem,

ainda bobo,

olhava tudo extasiado.

E a mãe sorria e chorava

num pranto de sol e chuva,

num hino suave e alado.

 

E o filho saltou nos ombros

da grande mãe que o gerou.

Mas logo, num desespero,

de quem se sente senhor,

correu como um desvairado,

matando pássaros inocentes,

arrancando flores e árvores,

como um mostro destruidor.

 

E a pobre mãe que pranteava

não pode mais segurá-lo,

embora, em vão, lhe mostrasse,

exemplos da natureza.

Mas o ser moldado no ventre

da terra mãe era mau,

e a mãe encheu-se de tristeza.

 

Pediu a Deus que o levasse,

e o filho desnaturado

revoltou-se contra tudo,

contra a mãe, contra o Senhor;

e orgulhoso, pretencioso,

julgou que era capaz

de ser único, superior.

 

E na sua evolução

dominou todas as forças

que existiam no universo,

numa inteligência assombrosa.

Mas Deus mandou vir á terra

uma força irresistível

feito sombra silenciosa.

 

E quando a terra envelhece,

enrugada, desgrenhada,

cheia de sulcos e dores,

chorando, do filho, a sorte,

o homem avança, destrói

Mas quando pensa ser eterno

encontra o fim inevitável

no simples sopro da morte.

 

E a mãe continua

gerando seres, mais seres,

na tentativa de criar

o filho que idealizou.

Em analisando o ser-vida,

no mais ínfimo desse ser;

como o homem existem males,

ódios, guerras, destruição...

A terra ainda não acertou!