TROPILHA DE SAUDADE
Derly
Silva
De um dia ,
voltar ao pago,
Tenho uma baita vontade
E este sovéu
que me prende
Terá outra utilidade
Sem ser esta que me amarra
Vou dar um pealo de cucharra
Numa tropilha de saudade.
Saudade do coleginho
E do luar cor de prata
Do açude, do potreiro,
Do meu cusco
vira-lata
De tudo me lembro bem
Até do apito do trem
Do campo verde e da mata.
Os meus tempos de guri
Não esqueço nem por nada
Do cartapaço,
da pedra,
Que ainda tenho guardada
Da primeira professora
Minha mestra orientadora
E da primeira namorada.
Da velha cancha de bocha
Eu jamais me esqueci
Onde jogava escondido
Porque ainda era guri
Tapete de chão batido
A capricho construído
Pra indiada se diverti.
No feriado ou no domingo
Jogava-se o dia inteiro
Ali vinha o peão de estância,
O magarefe e o turmeiro
Onde o guasca mais astuto
Depenava resoluto
A guaiaca do parceiro.
Quero mostrar às minhas
filhas
Onde brinquei em menino
A passarada gorgeando
Em coro fazendo um hino
Ver de novo o quero-quero
A bodega do vô Severo
E a cancha do João Claudino.
Se um dia eu voltar ao pago
Será feita a minha vontade
Este sovéu
que me prende
Terá outra utilidade
Sem ser esta que me amarra
Vou dar um pealo de cucharra
Numa tropilha de saudade.