QUEIXAS DE DESEMPREGADO
Derly
Silva
Andando desempregado
Ganhei o fora da prenda
Mas me justei numa fazenda
Por ser um índio campeiro
Precisava de dinheiro
Mas eu andava azarado
No primeiro banho de gado
Caí dentro do banheiro.
O meu cavalo picaço
Que jamais perdeu carreira
Ta virado numa topeira
Nem pra carroça se aluga
Vai pro jardeio,
refuga
Já tem dado até peleia
Num tiro de quadra e meia
Perdeu pra uma tartaruga.
O meu maneador
macanudo
De botar o pingo na estaca
Veja o que a sorte velhaca
Numa noite fez pra mim
Era de fato o fim
Meu maneador
couro de boi
Sabe pra onde foi
Pro buxo
dum graxaim.
Que roubasse o maneador
Até acho natural
Que roesse todo o buçal
E a estaca de guajovira
Mas tirar um tento de imbira
E no pescoço amarrá-lo
Fugindo do meu cavalo
Até parece mentira.
O meu cachorro brasino
Que era bem gordo e bonito
Ta que nem um pirulito
Até com o vento se dobra
Lambe osso quando sobra
Já não vai quando se ética
Disparou duma lingüiça
Pençando que era uma cobra.
A coisa andava feia
Pior que tombo de cego
Mas eu digo: não me entrego
Não ta morto quem peleia
Assim dizia uma ovelha
No meio de dez
cachorro
E numa briga lá no morro
Me
deceparam uma orelha.
Fui apenas apartar
Eu nem tava na pendenga
Mas me tocaram a cherenga
Meio assim de atravessado
Quadrei o corpo pra um lado
Sem ter no gesto malícia
Nisto chegou a polícia
E eu já fui preso enganado.
Mas a vida melhorou
Hoje a sorte me acompanha
Tenho um rancho na campanha
Até lavoura plantada
Tenho gado na invernada
Tem de tudo na fazenda
Até o carinho da prenda
Que a
muito tempo eu rondava.