FACA MARCA COQUEIRO
Derly
Silva
Quem me deu este presente
Foi um índio macanudo
Me deu com bainha e tudo
Com a chaira
junto também
Uma faca melhor não tem
Ajuda até na cozinha
Na delicada mãozinha
Da prenda que eu quero bem.
Já cortou costela gorda
E guisado pro carreteiro
Ganhei de um índio campeiro
O presente que está aqui.
Foi lá em Piratini
No berço da tradição
Foi uma tropa de emoção
Na hora em que recebi.
Cabo de chifre bem feito
Da guampa d’algum zebu
Bainha de
couro cru
Porque tem mais resistência
É ali sua residência
Com a chaira
na garupa
E eu carneio um boi num upa
Nas carneações na querência.
Atravessada na citura
Anda sempre bem afiada
Já abri até picada
Nos matos ande me meto
Pra o fogo cortei graveto
Usando minha
faquinha
Que corcoveia na bainha
Quando vê carne no espeto.
Não tem dinheiro que pague
Este pequeno tesouro
Já cortou bagos de touro
E a cola do meu tubiano
Nas festas de fim de ano
Degolou pato e peru
E cortou muito caracú
Para extrair o tutano.
Dia de chuva no inverno
Na profissão de guasqueiro
Eu consertava o apêro
Se houvesse necessidade
E a minha faca com vontade
Tirava um tento num corte
Pra trançar o laço forte
Da nossa grande amizade.
Minha faca não é prateada
Mas sim, feitio de ferreiro,
Que caprichou no tempero
E que no ofício se garante
A faca corta bastante
Por onde seu fio invade
Só não corte esta saudade
De alguém que vivo distante.
É mesmo buena
de fato
A minha marca coqueiro
Já cortou canzil e fueiro
Fez espeto, fez estaca
Já tirou couro de vaca
E com muito orgulho digo
Que nem pro pior inimigo
Eu nunca puxei minha faca.