TAPERA
Cyro Gavião
Você ‘sta
vendo,
sob aquela coronilha,
lá encima,
bem no topo da coxilha?
E’ um rancho abandonado,
é um resto do passado...
E’ lá que mora a saudade...
Vamos andando,
quero contar a verdade...
Espere!
Não meta o cavalo assim,
qu’esse resto de
jardim
já foi, outrora,
viçoso...
E quanto manjericão cheiroso
ela arrancou para mim!
Era bem mesmo daí
qu’ela arrancava o
regalo;
dessa lata carcomida,
que, na terra, está metida,
aí,
na pata do seu cavalo.
Repare, amigo.
os torrões estão caídos,
os caibros apodrecidos;
só uma quincha de capim.
Lê digo,
isto tudo para mim
é uma tortura.
Pobre coronilha!
já tem o tronco pelado,
pois nela se coça o gado,
quando é hora de sol quente...
Venha, agora, cá na frente,
quero mostrar-lhe uma coisa:
‘stá vendo aquela janela?
Era ali o quarto dela.
Parece qu’eu a ‘stou
vendo:
Alegre, faceira, cantando,
se arrumando
pra m’esperar...
E’ difícil continuar!
Até o ninho de João-de-barro
que tinha, na comieira,
coitado,
também foi abandonado,
com a falta da companheira...
- ’sta
um cigarro.
Lê juro qu’eu inda agarro
o maula que a matou
porque ela o despresou.
Então,
Hei de cortar-lhe a talho;
ficará como um retalho
o dono dessa traição.
E’ assim mesmo, amigo.
Dessa história verdadeira,
que matou meu coração,
só resta,
ali,
sob o pé da pitangueira,
onde eu plantei manjericão,
a sepultura dela.
ali,
pertinho da cancela.
E’ aqui que mora a saudade!