SINUELO
Cyro Gavião
(Homenagem ao 1º Congresso dos Poetas Crioulos)
Da invernada crioula do meu
peito,
Eu trago repontada, assim,
com jeito,
Uma ponta de gado muito feio.
E’ pobre - já se vê - até no
pêlo,
Mas gado manso, que há de ser
sinuelo
Dos poetas que param seu
rodeio.
“Meu laço”, “Ferro branco”,
“Cruz na estrada”,
que manguiei, lá do fundo da
invernada,
trazem, na marca, o próprio coração.
Quero que o piá, que monta
seu petiço,
Vá juntando o aparte de
mestiço,
Que traz, no berro, a fama do
rincão.
Ao grito do parceiro: “Já
está fora”,
Eu cutuco o meu pingo com a
espora
E “traco”,
na paleta, do meu lado...
E o touro que espirrar, mui caborteiro,
Há de pastar, por certo, no
potreiro,
Onde pasta, mansito, êsse meu gado.
Êsse aparte, xô-mico, onde me plancho,
Levarei, no sinuelo, pra meu rancho,
Ao tranqüilo, assobiando, sem
lamentos...
Quero levar a glória do Rio
Grande
E a nobreza do vate que se expande,
Na cruzada fraternal dos
sentimentos.