QUERÊNCIA XUCRA
Cyro Gavião
Quando a tarde vem chegando,
De “tiro” traz a saudade...
Cabresto forte é vaidade,
No bucal do coração...
Pois não agüenta a tirão,
Pregado dentro do peito,
Quando a
tarde, desse jeito,
Morrendo, beija o rincão!
Do açude da invernada,
Uma garça envaidecida
-Lenço branco em despedida-
Vai acenando, no céu...
Republicano troféu,
Lembrando cargas de lança,
Defendendo uma esperança,
Que se perdeu, “a lo léu”.
Nessa tarde ensangüentada,
Quando o sol morre sangrando,
Vejo o lenço colorado
Do maragato aragano...
Irmão do republicano,
Que combateu, peito a peito,
Guardando sempre o respeito
Do Rio Grande soberano.
Eu te relembro sonhando,
Querência, velha querência!
Sentindo tua influência,
Na formação desta raça...
Eu sinto o tempo que passa,
Galopeando, na coxilha,
Marcando, em mim, sua trilha
Com ferro, fogo e fumaça.
Na tua soberania
Eu te revejo imortal:
No pampa largo, um bagual;
Um touro escarvando
a terra.
Parece um grito de guerra,
Na exaltação da querência;
Um grito de independência,
Na voz do touro que berra.
No altar da minha crença
- Fogo rude de galpão -
Eu rezo minha oração,
No catecismo do pago...
Que decorei com afago,
Gineteando meu lombilho,
Guardando de pai pra filho
Conselhos qu’eu inda trago.
Já basteriado,
na vida,
Vou galopeando a memória:
Querência xucra da história,
Das rondas duma tropeada,
Da “sentinela avançada”
Do quero-quero gaudério;
Dos contos do Tio Lautério,
Que já não valem mais nada.
Pousadas de carreteiros...
Esquilas e marcação...
Fogo grande de galpão...
Floreios de uma cordeona...
Meu peito todo se entona,
Lembrando a china faceira,
Orelhando uma primeira,
Nas abas duma carona.
Meu xucro naco de terra,
Do meu Brasil um pedaço,
Batalhaste sem cansaço,
Na honra que te conduz...
A glórias
fizeste jús
E, ao grito de: upa e upa!
Hás de salvar, na garupa,
A terra de Santa Cruz.