NEGADA

Cyro Gavião

 

Tentiei o nó da macega,

Onde amarrei o sotreta.

Voltando, vi a carreta

Desenhada contra o sangue

Da tarde do meu Rio Grande

Que morria na tristeza...

Nunca vi tanta beleza,

Num quadro, pintada assim

Vi, babujando o capim,

A boiada que pastava.

E, quando mais me achegava,

Mais longe estava de mim.

 

Vendo essa tarde tristonha,

Fui chimarreando a vergonha,

A pensar: ela não veio...

Virgem do céu, como é feio

Chegar num rancho tapera,

Pensando que a china espera

Pra fazer a carreteada

E ver que a maula assanhada

Se alçara com outro quera.

 

Plantei-me, então, a cismar,

Dando nós no pensamento.

Mas, pra que tanto tormento,

Se ficou, inda, comigo,

Esse cusco, meu amigo,

Que me acompanha a “lo léu”;

Que todo refestelado,

Veio deitar-se a meu lado,

Nas rodilhas do sóveu.

 

Mas fiquei pensando sempre,

Vendo o corote e a trempe,

Onde fervia a panela...

Mas, ao ver o lenço dela

Amarradito num fueiro,

O coração caborteiro,

Pulava, pedindo a “paga”!!!

Sem querer, palmiei a adaga,

Nas ânsias dum entrevero.

 

Xô-mico, não vale a pena

Se pelear por uma china.

Como fogo de faxina,

Pouco dura o seu carinho.

Vou seguindo o meu caminho,

Na trilha da carreteada:

Acendo a braza apagada,

No pouso do meu rincão,

Pra que a lâmpada votiva

Permaneça sempre viva,

No altar da tradição.