MEU VIOLÃO
Cyro Gavião
Em sua sabedoria,
Deus fez tudo como quis.
Moldando nosso País,
Fez do pago um pedestal...
E minha terra natal
-O pampa que se espreguiça-
Foi despertando a cobiça
De Espanha e de Portugal.
E, aqui chegando, pelearam,
Trazendo em mente a coroa.
Pizaram na terra boa,
Que despertava do sono...
Pensando sempre no trono,
Travaram luta fatal:
Aconteceu que, afinal,
A terra já tinha dono.
Foi assim que, escorraçados
-E até me parece pouco-
Voltaram, levando o troco
E lataria na cola...
Mas, o que encanta e consola
E’ que ficou, nesta terra,
Como presa dessa guerra,
Uma guitarra espanhola.
Emigrando, pois, da Europa,
Perdeu-se pelo caminho,
Encontrando mais carinho
Nas porfias de galpão...
E, aqui, chamado violão,
Encantou as namoradas,
Despertando as madrugadas
E as prendas do meu rincão.
Eu também me enfeiticei
Nesse encantado troféu.
E rendo graças ao céu
Por me fazer compreendê-lo...
Parece o próprio modelo
Da mulher cintura fina,
Que, no meu peito, se enclina
Cheia de amor e desvelo.
Meu violão é confidente;
E’ fina jóia de Espanha.
Relíquia que me acompanha,
Que “não se empresta, nem
vende”...
Na vida nada me prende,
Só duas
coisas imploro:
Minha mulher qu’eu
adoro
E esse violão que me entende.