LEMBRANDO O PAGO

Cyro Gavião

 

Sou gaúcho e não renego

As tradições do meu pago,

Por isso é que, às vezes, pego

Na garrafa e tomo um trago.

 

As glórias do meu rincão

Carrego dentro do peito,

Onde bate um coração

Caborteiro e satisfeito.

 

Quando o sol cai sobre o monte,

Eu solto meu boi da canga;

Vou banhar-me numa fonte,

Que tem cheiro de pitanga.

 

Chegando a noite, “lá-puxa”,

A saudade me domina;

No cinto meto a garrucha,

Vou visitar minha china.

 

Mora lá, perto do posto,

A china qu’eu quero bem,

O seu beijo tem o gosto

Da fruta que o mato tem.

 

Nos braços dela me plancho,

Num amor que não tem fim,

Enquanto, fora do rancho,

O pingo espera por mim.

 

Quando chega a madrugada,

É  preciso qu’eu a solte;

Mas, ela em mim agarrada,

Num beijo, pede qu’eu volte.

 

Lembrando as coisas do pago,

A saudade me maneia

E o coração sem afago,

No peito, me tironeia.

 

Querência cheia de glória,

Da boleadeira e do laço,

O Brasil, sem tua história,

É o Brasil sem um pedaço.