CARTA
Cyro Gavião
Meu caro Chico Ribeiro,
Velho irmão da mesma crença,
Sem mesmo pedir licença,
Apeio no teu galpão.
E’ o velho Cyro Gavião
Que chega e pede pousada;
Que sempre “botou clavada”
Nas rodas de chimarrão.
Quando de lá tu te vieste
Pra velha Santa Maria
E “te mandaste a la cria”,
Tal qual um clinudo alçado,
Fiquei de fogo apagado
Tomando mate sozinho.
Mas conhecendo o caminho,
Aqui me tens a teu lado.
- Me alcança uma lata d’água
pra banhar do pingo o pêlo.
Vai segurando o peçuelo
Que trago sobre o lombilho.
O flete
que desencilho
Foi portador desse encargo.
Enquanto tomo um amargo
Dou ração ao douradilho_
Aqui na Boca do Monte,
Na sombra deste teu rancho
- Sou Gavião, não sou carancho
E chumbo não me preocupa -
Abre a mala de agarupa
Que é toda tua, afinal:
”Recuerdos” da capital
Que o pingo trouxe num upa.
Depois de lidos teus versos:
“Filosofia Campeira”,
Peneirados numa joeira,
Não ficou resto, nem joio.
Varei rio, varei arroio,
Trotiei por larga distância:
Sou chasque
da nossa Estância,
Numa mensagem de apoio.
Não fiques abichornado,
Te peço, meu caro Chico.
Mais uma vara de angico
Na braza
qu’está
apagada.
Contigo na madrugada
Espero clarear o dia,
Escutando a tua poesia
Que no bocal foi domada.
Recebe, pois, a mensagem
Cheia de vida e calor,
Que bem prova o teu valor
Como gaúcho e poeta,
Te ouvindo fico pateta,
Quando porfias na Estância.
Tiraste na cancha reta.
Bueno,
amigo, já me vou,
E’ finda a ronda campeira.
Morre no céu a boieira
Que há muito tempo eu não
via.
Deixando Santa Maria,
Montanhas, várzeas e gado,
Eu volto a cumprir meu fado.
Velho amigo, até outro dia!