CARGA BRUTA

Cyro Gavião

 

Grudada ao chão da querência;

Forcejando na subida;

Na caminhada da vida,

Vem tranqueando uma carreta...

No passo lerdo, a sotreta

Vem se arrastando, na estrada.

A carga é muito pesada

E o pouso é uma coisa incerta.

 

Leva histórias do passado

E lendas qu’eu aprendi;

Que me contava, em guri,

A negra velha da estância...

E, ao vê-la, assim, na distância

Que, ao tranco rude, se encurta,

Vou beijando a terra bruta,

Que acariciou minha infância.

 

Na carreteada da vida,

Quando se apaga a esperança,

E’ bem triste uma lembrança,

Quando vem desajeitada...

A carga fica pesada

E o coice puxa sem jeito,

Pregando tirões no peito,

Nos solavancos da estrada.

 

E, ao grito de ôche!... ôooche!!!

Pára a carreta cansada.

E, ao terminar a jornada,

Mateio junto ao fogão...

E, vendo em cada tição,

A chama que se esmaece,

Eu vou rezando uma prece,

No culto da tradição.