PRA O VERSO QUE
DIGO
Cristiano Ferreira Pereira
Pra o verso que digo
me pilchei a capricho,
me desfiz de anseios
e enfrenei o colorado do meu sangue
pra recorrer os corredores deste
peito de invernar rimas,
e mostrar que as lides de dizer versos
formam a essência de mim.
Sim!...
Sonhei muitos sonhos - de tantos –
vivendo paixões, admirando muitas
prendas lindas, em seus belos vestidos.
Passei “cuentos” de antigos,
os causos das rodas de mate,
encarnei em mim cada imagem
que o verso me vestiu.
É claro!...
Trancei adagas com castelhanos e
- também - me “hermanei” com eles.
Fiz parte em escaramuças de bailantas,
bandiei tropas, fui ginete,
matei e morri... mil vezes!
Fui herói farrapo, fui lanceiro negro,
vivi tipos que me orgulham,
para – hoje – ser personagem...
... de mim mesmo.
Por isso...
que quando digo este verso,
digo de coração, empresto a voz
para um brado guerreiro,
para um chasque de paz,
para um retrato da arte campechana
que estampa nossa imagem
em cada plaga do pampa.
Sinto a emoção de ver
- “quando um doze braças,
com asas ligeiras se vai para o abraço
nas mãos de um novilho”-
e sentir o estrondo do pealo,
certo de que minhas mãos
deram vôo ao laço, e...
... sustentaram o tirão.
Quem diz um poema,
vive todas suas emoções:
é santo ao encarnar o
Cristo,
é puro ao recordar da
infância,
inocente que é injustiçado,
é o campeiro triste que
coureia a rês,
ao retratar a seca que
aflige o campo
e atormenta o vivente.
O verso – companheiro –
é um ente querido,
é a parte mais viva de nós;
o campo que se emoldura,
o canto que se apruma
... a alma de quem recita!
Por isso que me fiz mais
gaúcho
...pra o verso que... digo.
* * * * *
Do poema:
Tributo a um Marca-Touro,
De Lauro A. Corrêa Simões:
- “quando um
doze braças,
com asas ligeiras se vai para o abraço
nas mãos de um novilho”-
Poema que deu o título de
melhor intérprete para José Cláudio
Pereira, na 3º Recoluta da Poesia Gaúcha de Uruguaiana.