Promessa de Amor do Índio Pobre

Colmar Duarte


O pingo

atado ali no parapeito,

mascando o freio,

farejando a noite,

foi a única testemunha desse adeus.

 

Duas gotas de luz vieram brincar

nos olhos cor de mel

da moça triste.

 

E seus lábios

ficaram entreabertos

a tremer como um pássaro assustado.

 

E nem os vagalumes,

distraídos

a costurar o escuro,

escutaram

a promessa de amor do índio pobre:

- Eu voltarei para buscar-te,

um dia.

Mas antes andarei muitos caminhos

à procura de um mundo

pra te dar.

 

Retornarei a ti

na voz dos ventos

que susurram acalantos nas planuras,

como a ninar

o sonho que embalamos.

 

E teus olhos,

profundos como o tempo

que enfumaça recuerdos e distâncias,

me entregarão o brilho das estrelas

que florescem no abismo das lonjuras,

nas madrugadas

dessas noites mansas.

 

Eu  voltarei

para trazer-te, um dia,

um vestido de nuvens e de espumas

e um véu

tecido com fios do luar.

 

Depois, farei moldar nossas alianças

com todo ouro que puder guardar

do último clarão

que  um sol, no ocaso,

filtrar entre a ramagem das figueiras.

Teu anel de noivado

enfeitarei

com a pedra preciosa de um luzeiro

engastada no canto dos sabiás.

 

Pela estrada de luz da Via Láctea

tu chegarás a mim

sorrindo então...

Uma tiara de lua em teus cabelos

e uma rosa de aurora

em tuas mãos.