O pingo
atado ali no parapeito,
mascando o freio,
farejando a noite,
foi a única testemunha desse
adeus.
Duas gotas de luz vieram
brincar
nos olhos cor de mel
da moça triste.
E seus lábios
ficaram entreabertos
a tremer como um pássaro
assustado.
E nem os vagalumes,
distraídos
a costurar o escuro,
escutaram
a promessa de amor do índio
pobre:
- Eu voltarei para buscar-te,
um dia.
Mas antes andarei muitos
caminhos
à procura de um mundo
pra te dar.
Retornarei a ti
na voz dos ventos
que susurram acalantos nas
planuras,
como a ninar
o sonho que embalamos.
E teus olhos,
profundos como o tempo
que enfumaça recuerdos e
distâncias,
me entregarão o brilho das
estrelas
que florescem no abismo das
lonjuras,
nas madrugadas
dessas noites mansas.
Eu voltarei
para trazer-te, um dia,
um vestido de nuvens e de
espumas
e um véu
tecido com fios do luar.
Depois, farei moldar nossas
alianças
com todo ouro que puder
guardar
do último clarão
que um sol, no ocaso,
filtrar entre a ramagem das
figueiras.
Teu anel de noivado
enfeitarei
com a pedra preciosa de um
luzeiro
engastada no canto dos
sabiás.
Pela estrada de luz da Via
Láctea
tu chegarás a mim
sorrindo então...
Uma tiara de lua em teus
cabelos
e uma rosa de aurora
em tuas mãos.