ESTAÇÕES
COLMAR
DUARTE
A vida imita as estações
Ao vê-las em ciclos sempre iguais,
Sempre girando.
Sem pressa ou pausa
O tempo vai passando
Medido pelo sol, Pelas estrelas.
Nas engrenagens de um relógio eterno:
Primavera, verão, outono, inverno.
Nascer, andar, crescer,
Florir sorrindo
Ao som feliz do canto das cigarras.
Ao sol das esperanças e quimeras
Reviver o espanto
A cada hora.
Pois ser criança
É viver a primavera.
Depois,
não mais conter essa energia
de sol inovador que a tudo aquece;
contestando com clara rebeldia
costumes e valores desgastados;
descobrindo o amor
e sendo amado,
eclodindo sementes para as messes.
Com chuvas passageiras,
Ventanias,
Queima o sol de verão
Da mocidade.
Mas muda o tempo
E amaina a tempestade.
O céu é azul,
As nuvens, de algodão;
Há pássaros com asas de silencio
Revoando sobre a verde imensidade.
Há gorjeios nos ninhos e acalantos
Quando a noite enternece a paz dos campos.
Os dias são mais claros, mais
Tranqüilos;
É suave o vento, não abrasa o sol.
Os arrozais maduram as espigas,
Há trabalho e fartura,
Vinho e pão.
É tempo de aguardar, como as formigas,
Para o rigor dos dias que virão.
Ao desfolhar as ilusões antigas,
Sentir que o futuro já é presente.
Com a certeza da serenidade
Caminhar
Com os filhos pela mão.
O sol de abril
Que já dissipa as sombras
É o sol de outono
Da maturidade!
Então se cala o pássaro cantor;
O céu muda de cor com as neblinas.
As geadas encanecem as manhãs;
São mais longas as noites,
Mais escuras;
Sem cricrilar de grilos nas lonjuras,
Sem o grito de alerta dos tajãs.
Enterraram seus cantos as cigarras.
E não se escutam mais as algazarras
Dos filhos
Que partiram,
Um a um,
Buscando uma razão para viver.
A solidão tem as asas de um anjo
E as mãos de luz
Que sabem abençoar.
Feliz quem vive o tempo de perdoar,
Tempo de olhar com os olhos de saber
E de adoçar a benção de viver.
E assim retornará ao recomeço
O ciclo das chegadas e partidas.
Quem já cumpriu as estações da vida
Já de voltar
na alma das sementes.
Vai o ancião,
Curvado pelo tempo,
Com o neto aprendendo a caminhar.
Se um gastou as forças que tivera,
O outro
Vê a vida começar agora.
É o inverno
Que passa e vai embora
Para que chegue outra primavera!