Na
pedra somente o nome
e
duas datas, mais nada.
Nas
datas, os dois sinais:
para
o nascimento, a estrela,
a
cruz...para o nunca mais.
Estrela
e cruz, duas datas
e
uma vida entre as estacas
que
marcam início e fim.
Como
a cancha de carreira
de
algum bolicho tapera,
coberta
pelo capim,
onde
se vê – de passada –
alguma
estaca cravada,
marcando
a cancha, ainda assim.
O
partidor é uma estrela,
a
cruz é o laço final.
Entre
as duas, tanta estória
que
o tempo não vai guardar;
que
se um dia fosse escrita
pra
que pudesse ser lida,
do
início ao fim da vida
seria
marcada igual:
maiúscula
no começo,
no
fim o ponto final.
Mas
quanta interrogação,
espantos
e reticências,
nas
entrelinhas da vida
contida
em seu coração?
Era
uma vez um piazito
e
um mundo por descobrir,
um
medo de faz-de-conta,
bicho-papão
pra dormir.
Distintos
sons pra lembrar:
do
pai, gritos com o gado;
da
mãe, vozes de acalantos.
Depois,
um viver de espantos
numa
terra por povoar.
O
ritual das madrugadas
em
volta ao fogo de chão;
rodeios,
domas, potreadas.
Ainda
não tinha barba
quando
veio o “23”.
O
pai era maragato
e
se foi daquela vez,
se
juntar a Honório Lemes.
Uma
tropilha de zainos,
uma
espada, um mosquetão;
lenço
vermelho esvoaçando ,
junto
ao aceno da mão,
dando
adeus, pra não voltar.
A
vida seguindo adiante,
com
seus ciclos naturais.
Num
gateado de confiança
enfrentou
o toro passo
pra
um baile, uma carreirada
ou
a sombra de um potreiro
na casa
da namorada.
Casamento
e rancho novo,
onde
o amor foi morar.
Muito
trabalho
e
os filhos,
chegando
como andorinhas
pra
encher a casa de sons.
Depois
a necessidade
de
dar escola pra os piás.
a
mudança para o povo,
deixando
o pago pra trás.
O
pago onde deixou nome
como
campeiro de lei.
Não
nascera esse cavalo
que
o pegasse de mau jeito
numa
rodada traiçoeira.
Vista
e dresteza de sobra,
pisava
a orelha do maula,
saindo
sempre de pé!
Num
rodeio era um respeito
quando
apartava novilhos.
Amagava
na paleta,
de
pingo alçado no freio,
tirando
“erguido” o franqueiro.
Se
o boi olhasse o sinuelo,
bancava
o flete no freio,
vinha
ao tranco pra o rodeio.
Quando
desatava o laço,
podia
chegar co’a marca
que
o bicho estava no chão.
Seguro
e bem a cavalo,
um
dia – por patacoada –
passou
a mão no cabresto,
num
arremedo de laço,
e
fez passar a porteira
a
zebua caborteira,
na
cincha do seu picaço.
Noutra
feita, um touro pampa
que
refugava o rodeio,
boleou
a anca e se veio
atropelando
o cavalo.
Livrou
o pingo da carga
e
se juntou com o touro.
De
encontro sobre a paleta
contra
aquela massa bruta,
sem
deixar virar de frente,
ia
baixando o trançado
com
toda força do braço.
A
polvadeira subindo,
cavalo
e touro rodeando
nessa
peleia de morte.
Até
que num de repente,
co’ajuda
de deus e sorte,
o
touro- tonto a laçaço –
alinhou
rumo ao rodeio.
Tropelias
como essa
eram
coisas costumeiras.
Levaria
horas inteiras
contando
essas gauchadas
de
quem, em qualquer serviço,
honrou
sempre o compromisso
e
nunca negou quarteada.
Mesmo
sendo ventania,
pelos
filhos se fazia
dócil,
com voz de veludo,
quando
contava uma estória
ou
segredava acalantos:
“Dorme
criança linda
teu
sono doce e puro,
porque
não tens ainda
cuidados
com o futuro...”
E
as mãos ásperas, pesadas,
calejadas
pela lida,
eram
suaves como asas
acariciando
os cabelos
da
criança adormecida.
Quando
meus irmãos se foram,
buscando
rumo e razão,
fiquei
ouvindo seus “causos”,
vendo
seu envelhecer.
Hoje
sinto que essa pedra,
com
duas datas e um nome,
resume
a vida do homem
como
num livro fechado.
E,
ao relembrar o passado
como
minha referência,
nestes
versos choro a ausência
de
quem fez tanto na vida
que
aqui vejo resumida
a
um nome com dois sinais:
uma
estrela pra um começo
e
uma cruz... pra o nunca mais!