CARAGUATÁS
Colmar Duarte
Que segredo esconderás
Incompreendido e sisudo?
Tua rudeza de espinhos,
Num silêncio ponteagudo
Faz com que vivas sozinho;
Sem, ao menos, um aceno
De quem te vê no caminho.
Quando se vão os invernos
E as várzeas brotam em flor;
Quando sussurram os ventos
Nos ramos cantos de amor;
Quando relincha a potrada
E os touros se desafiam
Berrando, escarvando o chão,
Levantas teu braço esguio
Num arremedo de flor.
Mas se te sobram espinhos,
Te faltam beleza e cor.
Sem um olhar de carinho,
Sem beijos de beija-flor,
Tens o destino mesquinho
Dos deserdados do amor.
Talvez um dia eu descubra,
Caraguatá carrancudo.
A razão desse teu fado
De não confiar em ninguém.
Pois, às vezes – a meu modo –
Cansado e desiludido,
Sou caraguatá também.