Campo a Fora

 Colmar P. Duarte


Quando me dei por conta
A vida potra ia de cola alçada
campo a fora.

Ponteava uma tropilha de quimeras,
Gavionandoventena – nos varzedos;
Sem o som do cincerro das “madrinhas”,
Sem marcas de bocal ou de colheras.

Corria em liberdade,
Sem os medos
Que vão nos ressabiando, e que são tantos.

Sues cascos pisoteavam meus espantos
Entre as flores silvestres da alegria
Que costumam pintar as primaveras.

Mas a vida se doma,
Como os potros!
Alguns se amansam,
Se aporreiam outros;
Nenhum escapa as garras por bravata.
A mão que nos castiga ou nos maltrata
É a mesma que nos põe mel na boca.
Se a lida não é mansa
E a sobra é pouca,
Que nada é para sempre – já se sabe.

E o que não tem agora serventia
Tanto faz
Que mais dure... ou que se acabe.

Os sonhos que escaparam das potreadas
Já não posso volteá-los, novamente.
Mas pouco importa o que não tem remédio
- é olhando pra frente que se avança!
Seguem nascendo outros;
Num repente,
Tenho outra tropilha
E bem mais mansa.

Viver é uma tropeada das compridas;
E só vivendo é que se entende a vida.
Tropeiro e domador,
Arreando a tropa no rumo que o destino estabelece.
Pra o coração “ronceiro”, calço esporas.
Se ficar velho, por minha idéias.
Não choro o que o passado leva embora;
Vou domando outros sonhos no presente.

Bagual bruto, rebelde de saída
( só tapeando na cara obedecia! )
talvez chegue domado ao fim da lida.
Pois nada ensina tanto como a estrada.
E muito aprende quem não sabe nada,
Tropeando as penas
E domando a vida.