Nos Olhos de Quem foi Estrada
Claúdio Silveira / Cristiano Ferreira Pereira
...A meia
luz da candeia,
Se projeta
amarelada,
Numa nesga
de aprisco, nos ‘bretes de um arrabalde’...
Que se
confunde ao brilho perdido
Do olhar
saudoso e dolorido
De quem um
dia foi estrada...
...Passam
luzes e mais luzes
Dos
pirilampos povoeiros,
Enquanto
transpassa um amargo
Numa
garganta calada,
Olvidada
dos aboios e caminhos;
Em
andarilhas lembranças
Conserva o
gosto doce das liberdades de antanho
E o salgado
cristalino que deslizava na fronte;
Quando
debaixo de um sombreiro bem tombeado
Riscou
horizontes e lonjuras,
Estrivado
na mais terrunha das consciências
Onde a
honra e a reverência
Habitavam
como leis...
Os olhos
naqueles tempos,
Refletiam
correrias,
Potreadas e
tropas largas,
Andanças
pelo sem-fim e banhadais...
As potreras
ostentavam
O aço
pontiagudo e cortador das chilenas cantadeiras,
Roseteando
a crina dos ‘PAJONAIS’...
Nas pernas
- quase cambotas - um entono de milícia,
A
campechana perícia
E a força
brutal no garrão...
Sobre as
ancas do pingaço... um poncho,
Nos tentos
laço ou sovéu,
A vista
bombeando até onde o campo encontra o céu,
E as
rédeas... firmes na mão...
Os olhos
viram tormentas se perfilarem no espaço
E tremular
o mormaço na vastidão da distância...
Trazia
geadas, cimbronaços e rodadas...
Polvadeiras
e rigores sobre o couro.
Despertou
as madrugadas e encordoou dias e noites
Percorrendo
léguas de distâncias
Que
apartavam os rincões...
Qual um
monge peregrino
- Na
catedral das sesmarias -
Resenhou o
próprio destino
Por sobre o
altar dos fletes;
Á andar –
andar e pregar..
...Pelas
cantigas de ronda.
Talvez
quisesse campear um parador derradeiro...
Ou quem
sabe, antevendo
O dia de
uma inversão de valores e ideais...
Quando iria
definhar solitário
Qual um pássaro
ferido
Castrado do
próprio vôo
Na solidão
de um cativeiro...
...Como
tantos, vitimado
Pela
‘benção do futuro’
Ungida de
um “tempo novo”,
Que se
olvida dos mais velhos,
Das raízes,
da História
E do
princípio de tudo.
A cavalhada
de muda
Ficou aquém
do horizonte.
O cincerro
da madrinha,
Parou
badalo pelas léguas do caminho,
Pois os
ventos do progresso
Varreram os
rastros das tropas e tropilhas,
E os Salmos
das flexilhas...
Silenciaram
junto ao eco dos aboios
...Por não
ter a quem pregar.
Restaram os
olhos saudosos,
Vertentes
de um caudal de dor,
Que jorra
silente nas preces das alvoradas...
Avistando
as barras de mais um dia
Melancólico
e... vazio.
Agora sorve
solito,
O mesmo
amargo de antanho,
Dos pousos
e das paragens,
Em meio a
outras paisagens
De matizes
fumacentos...
Quem tanto
cortou planuras,
Hoje luta
com as lonjuras
Que se
alargam peito adentro...
Distante...
De forças,
desvanecido,
Aspira o ar
poluído
Da
confluência das ruas...
Tropeando
lembranças,
Entre
saudade e perigo,
Busca seu
tempo perdido...
...Em eras
que não são suas.
...Passam
luzes e mais luzes...
... Olhares
que o fitam,
Mas não o
vêem...
...Por
desgastada a imagem
E ausência
dos que crêem.
Sim!...
Atentem!...
Quem busca
rumo e sentido
Campeando
um rumo perdido
Que no
tempo se extraviou;
Deve
encontrar aparências
Nas
descrições de QUERÊNCIA
De alguma
linha rimada...
Ou achar
mais que sentido
Quando se
ver refletido
Nos olhos
de quem foi estrada!...