SOLIDÃO E PAZ
Meu olhar revoa nesta
hora mansa,
talvez um anjo me acarinhe agora;
os sonhos vertem cores, a singrar lembranças...
As cores de paisagens que
jamais perdi.
As imagens que se achegam são
pequenos pássaros,
trazendo tantas luzes de um momento eterno...
Um fogo de alma plena,
espantando invernos,
e a história no meu rosto, resumindo os traços.
Lhes juro, pois é verdade!
Foi assim que aconteceu...
Eu vinha de muito longe,
de muito além desta serra...
O olhar já meio turvo
de poeira e de cansaço.
Eu vinha buscando vida
por tantos dias iguais...
Carreta, sonho e família,
seguindo um rumo de paz!
Outros tantos vinham junto,
tantas carretas rangendo...
Horizontes de esperança
despontando em cada olhar.
Muitos meses, muitas léguas,
muitas pedras no caminho...
A sorte buscando ninho
e uma história por criar.
Eu vinha de muito longe,
mas vinha certo e feliz...
Vinha escrever meu destino
no extremo sul do país.
Trazia a alma lavada
e a imagem da Mãe de Deus
abençoando a jornada.
Num certo final de tarde
de um certo dia qualquer,
buscando a felicidade
sem saber onde chegar,
montamos acampamento
em cima de uma colina,
que por mistérios da vida
era paz e solidão.
Entre o Planalto e a Serra
se fez a revelação.
Outro dia amanheceu,
mas não um dia comum...
Levantei quase de pronto,
esfreguei os olhos baços,
como espantando o cansaço
e o sono, que insistia
em me envolver nos seus braços.
Olhei os campos bonitos
lá do alto da colina,
que também nesse momento
era paz e solidão.
Era a própria natureza
em poesia e soledade...
Uma voz de liberdade
a ecoar na imensidão.
Mas o tempo segue e a jornada
segue
e o horizonte obrigava a andar...
Embarcamos quietos na carreta
velha,
afinal, a vida tinha que seguir.
Caravana pronta, ordem de
avançar...
Mas cada silêncio em cada
carreta,
remoía inquieto
solidão e paz.
Foi então que aconteceu...
Lhes conto, pois é verdade!
Pelos meus cabelos brancos,
por estas mãos calejadas,
eu juro que aconteceu!
Quando quisemos partir,
a carreta que levava
a imagem da Mãe de Deus,
de repente se quebrou;
num upa se consertou
e ela quebrou outra vez.
Novo conserto se fez,
mais forte, com mais cuidado...
O eixo foi reforçado
e ela quebrou outra vez!!
Tentamos puxar os bois
e os bois então se negaram...
Empacaram, apanharam,
mas não saíram dali.
Afinal, o que existia...
O que havia demais
nessa colina tão plena
de solidão e de paz?
Nossa Senhora sorria
em cima do rude altar
que a carreta oferecia...
Pois afinal, nesse dia
escolhera o seu lugar!
Então ficamos ali
com tantas indagações...
Mas todas bem respondidas
pelos nossos corações.
Nossa Senhora escolheu
os campos de Soledade
pra serem, pela eternidade,
querência da Mãe de Deus!
Aquela
noite dormi
um sono doce e sonhei demais...
Sonhei com uma capela
se erguendo linda e na volta dela
muito mais que apenas solidão e paz.
Sonhei com ranchos humildes
e com pessoas felizes a construir ideais...
Sonhei com largas estâncias
e homens vencendo distâncias,
levando a tantas querências
o sumo bom dos ervais.
Sonhei com grandes rebanhos
crescendo em cima da serra
e lavouras de fartura
dourando a pele da terra.
Sonhei com homens honrados
e mulheres debruçadas
nas janelas de um povoado.
Sonhei que Nossa Senhora
ofertou seu coração
e semeou estrelas lindas,
plantando céu neste chão.
Sonhei com homens colhendo
essas
estrelas bonitas
que eram
riquezas benditas
luzindo
ao toque das mãos.
Então
sonhei e sonhei,
até que
enfim, despertei
e
continuei a sonhar...
Pelo
tempo e pela vida,
entre o
planalto e a serra,
fiz meu
destino e meu lar.
A
capela é logo ali...
Nossa
Senhora sorri
em cima
do seu altar.
Lhes juro,
pois é verdade!
Nos
campos de Soledade
foi assim
que aconteceu...
O
que será dos meus sonhos,
só o
futuro dirá...
Nossa
Senhora talvez saiba mais.
Quem
sabe um dia alguém contará
a mais
bela história de um certo lugar,