QUANDO O SOL CAIU

Carlos Omar Vilella Gomes

 


Quando o sol caiu não solucei,

Enchi o peito com o ar que ainda tinha

E pensando estar pensando não pensei.

 

Os laços e esperanças ramalharam,

As notas da guitarra se calaram

Em nome de um destino que eu herdei.

 

Quando o sol caiu me desarmei...

Mirei sem desencanto o horizonte

Com olhos de uma história que eu não sei.

 

A Terra se partiu num grande abismo

E à beira desse abismo eu me abanquei.

 

O choro retumbou nos meus ouvidos

No tom amplificado de um trovão;

Paralisando vozes e sentidos,

Gelando e incendiando o coração.

 

A Lira, sem rituais, cortou os pulsos,

Lembrando de um amor que não provou;

E o poeta revisou seus absurdos

No sangue que a Lira derramou.

 

Quando o sol caiu sequei o mate

Num último resquício de prazer...

Num último recado à solidão.

Não importavam mais os alambrados...

Nem o silêncio dos desesperados,

Nem o futuro me escondendo a mão.

 

Não havia pandorgas pelo céu

Nem cruzavam canoas pelos rios...

As potradas cessaram seus tropéis,

Tantos dedos negando seus anéis,

Tantas caras sorvendo seus estios.

 

A minha faca estava bem afiada,

Minha bombacha estava bem passada

E a minha alma estava por estar;

O sol beijou com sua boca quente,

Um gosto doce salivou no beijo

E nesse instante me encontrei em paz.

 

Quando o sol caiu, eu tinha febre,

Fazendo contraponto ao seu calor...

A pele do silêncio ficou leve

Tatuada com brasão de estranha cor.

 

 

Quando o sol caiu, também caí,

No abismo que eu costeava sem sentir...

No fundo desse caos que eu não cavei.

Talvez um dia eu volte por ali...

Quando o sol caiu, eu renasci,

E ao lado do meu catre...

...despertei!