O SÉTIMO DIA
Carlos Omar Villela Gomes
O sétimo dia chegou cedo...
Cedo demais ou me perdi nas contas
E eu aqui, sem uma flor sequer;
Sequer um choro pra lavar minha alma,
Algum bilhete ou um adeus qualquer.
O sétimo dia chegou cedo,
Tranqueando num soluço costumeiro
Que desta vez abarrotou meu sonho
No abismo tristonho de onde veio.
Chegou cedo, mas chegou
tão calmo
Que eu sequer me dei conta da importância
E da real noção dessa distância,
Quando o mundo se mostrou a sete palmos.
A vida inteira continua a dança,
Moças sorriem, moços campereiam;
Aves revoam, potros corcoveiam,
O sol rebrilha no espelhar dos rios;
E eu, penando neste fundo frio...
Pelo meu nome dois ou três rezando;
Mas essas rezas vão se extraviando
Pois minha alma é um surrão vazio!
Se meus olhos não mais
tinham estradas
Meus olhares então vieram comigo...
Trazendo cada sombra disfarçada
De um sonho que ficou junto à ramada,
Num tempo que há tempos foi perdido.
A terra não protege
das distâncias
Onde o tombo marcou cartas jogadas,
Onde a cincha correu desesperada
Pras virilhas do sonho caborteiro.
Uma fome tomou-me por inteiro
E ficou ruminando minhas idéias,
Um tanto indigestas por sinal...
Foi então que, há exatos sete dias,
Deixei a vida pra virar poesia
Num desespero que se fez final.
O sétimo dia chegou cedo,
Podia ter demorado tantas eras...
Podia ter me livrado das esperas
E das matilhas do meu coração.
Que ainda hoje neste abismo fundo
Devoram as lembranças de outro mundo,
E me perseguem nesta solidão.
Nenhuma nuvem no céu...
O céu do sétimo dia
Pintado a raios de sol...
Uns sete dias depois
Que a esperança se foi
E eu, sangrando por dois
Me fiz um peixe no anzol.
Meu funeral foi bonito,
Com pompa, com circunstância,
Circunstancial esta dor...
Há sete dias atrás
Disseram: Descanse em paz!
E eu, do meu nunca mais,
tremi de frio e pavor...
Disseram, descanse em paz...
Como pudesse haver paz
Pra quem morreu por amor!