GUARITA
Carlos Omar Villela Gomes
Como chegou, ninguém sabe,
Ninguém
viu nem se importou...
Apenas passos cansados
E um silêncio que restou.
Mira longe, pisa perto,
Sente o destino nas mãos...
Anseios de céu aberto
Pulsando no coração.
Os pés se firmam no morro,
A alma tenta voar...
Os sonhos pedem socorro
Beijando a boca do mar.
Não ouve mais os tormentos
E o mundo dizendo não...
Escuta apenas o vento
E o som da rebentação
Os olhos enxergam longe,
Além do bem e do mal...
Buscando um tempo perdido
No templo do litoral.
De cima a vida é mais vida,
Mas também pode não ser...
Num momento os pés bem firmes,
No outro, quem vai saber?
Seus olhos buscam o céu
Nos olhos claros do mar...
Quantos segredos nunca revelados,
Quantas paixões e temporais humanos...
E quantas cruzes foram carregadas
Na “via crucis” do passar dos anos.
Tantas peleias, tantas despedidas,
Tantas histórias que não vai contar...
Quantos lamentos vertem desses olhos
Que hoje se perdem na amplidão do mar.
Os barcos recortam o horizonte,
Parecem que são anjos pequeninos...
O mar é um véu de paz neste momento
Chamando pra cumprir o seu destino.
As ondas batem forte pelas pedras,
O sal das lágrimas desaba do penhasco...
E encontra o sal de quem, embora cristalino,
Está prestes a ser feito de carrasco.
A torre alta é um altar de sacrifício
Pra quem, agora, quer se dar ao precipício
Como se fosse dar as mãos ao Criador.
Que ironia! Pois quem busca esta saída
E por ter dores abre mão da própria vida
Leva consigo a dor mais triste pra onde for.
A Guarita hoje é o palco dessas dores...
Um teatro sem platéia ou refletores
Num monólogo calado pelo ator.
De onde vem tanta mágoa?
Porque se turva a visão?
Porque buscar pelas águas
Alento pra o coração?
Porque desistiu de tudo?
Porque cansou de lutar?
Porque procurar o céu
Nos olhos claros do mar?
Talvez seja porque o céu
É só um espelho do mar.