De Alma Inteira
Carlos Omar Villela Gomes
Retoçou o peito feito potro arisco renegando o freio...
Já mirei na volta,
procurando as portas
Pra saltar bem longe
dessa solidão.
Refuguei o mate,
espantei as mágoas
E bebi das águas do meu
coração.
Já não vejo sonhos tão
incertos,
Nem percebo sombras mal
dormidas...
A alma é clara e ilumina
o breu.
Não me falem da linha do
horizonte
Por distante, fugaz,
inatingível...
Meu horizonte não é mais
que eu.
Pois se meus olhos
cegam,
Sem auroras
Frente aos tombos e
tropeços da jornada...
Quando levanto e retorno
à caminhada
Sou meu próprio
horizonte nessa hora.
Pra quem é livre e
renegou maneias
Não há malino que lhe escreva a sorte...
Não me quebram a espinha
sem peleia,
Não me vergo a alma, nem na morte.
Não tremo ao tinir das açoiteiras,
Dou a cara a tapa, mostro a outra face...
Pois a cada golpe minha
fé renasce
E eu renaço
das cinzas, de alma inteira!
De alma inteira,
abraçando o mundo,
Bendizendo a vida,
retrucando os pealos,
E inundando os olhos,
meio sem querer...
Não o pranto triste de
uma dor que aflora,
Mas o pranto doce que a
alma chora
Quando
a paz é tudo o que se pode ver.
Meus
manuscritos são simples,
Contam histórias tão
simples...
É tão fácil ser feliz!
E mesmo tendo feridas
Só me arrependo na vida
Das coisas que eu nunca
fiz.
As sementes que plantei
e a terra não germinou...
A morada que ergui
e a enchente carregou...
Os
ideais que busquei
e o destino me negou...
Não são peleias perdidas...
São entrelinhas da vida
Que escreveu o que sou.
E no fim de tudo, eu
sei,
Levarei junto a certeza
Que pelo menos tentei.
De alma inteira me
entrego à vida
Sem temer os golpes,
Desviando os laços que
de sobre-lombo
O destino joga;
Sou assim, renasço,
atropelo a sorte,
Minha alma inteira é de
liberdade
E uma alma livre não se
põe a soga!