VERSOS PRA QUEM ENSINOU A VIDA
Carlos Eugênio Costa da Silva
Cabelo mouro, atestando
Que a ação do tempo e da vida
Deixa marca irreversível
Em quem de fato viveu.
Bigode mostrando a essência,
E na face a
experiência
De quem tudo conheceu.
Trazia na vestimenta
A sua simplicidade:
Boina de lã, bem gaúcha,
Pela qual manta ao pescoço,
Bombacha meio surrada
E um coração sem mágoa,
No simples armando a rede,
Porque quem mata a sede
Não é o copo, é a água.
De tudo sabia um pouco
Porque aprendeu co’a
vivência,
E jamais negou ajuda
Pois adorava ensinar.
Seu jeito meigo e paciente
Era um prazer, e a gente
Parava pra lhe escutar.
Nunca cursou faculdade
Mas era qual professor;
Com forte inspiração
Fazia verso rimado.
Nunca perdeu uma carreira
E assim desta maneira
Fez Prendas e Peões do
Estado.
Muita gente dele não gostava,
Porque por ser cativante
O que dizia aos amigos
De logo virava lei.
Era um exemplo gaúcho,
E isso em muitos dói,
Agia com sinceridade,
E sabemos, a verdade
Aos invejosos corrói.
Porém um dia, o destino
Quis levar-lhe pra outros
pagos,
De onde a gente não volta,
Deixando só a saudade.
Um flete
crinas de vento
Levou-lhe pra outra Estância,
No céu é longa a distância,
Mas não no meu pensamento.
Neto Saldanha. Tio Neto.
Quanta falta o Senhor faz,
Mas seus conselhos e exemplos
Pra sempre irão me guiar,
Pois fortes são nossos laços
E sempre ficam pedaços
No que a gente semear.
Por isso, nas noites claras,
Quando o vento de mansinho
Embala flores e galhos,
Creio que seja seu pala
Desfraldado na distância,
E a luta cheia, tão linda,
A sua boina de lã.
E o céu pilchado
inteiro,
Porque agora é seu rincão;
Então, num astro passando,
Vejo o Senhor ensinando
Pras estrelas tradições.