DIVAGAÇÕES
Carlos Eugênio C. Silva
Meu mundo, meados de junho,
chega-se o tempo que espero
na estação tão friolenta
que aquece minh’alma fecunda.
Os matizes do inverno
sompram um vento
gelado,
guasqueaços que no
passado
enrijeceram meu cerno.
Talvez eu seja vaqueano
nesta invernalização,
aonde meu pensamento
pós período de anestro
vem ciclar recordações
vem sentir carícias fortes
do tempo que me dá norte
em ontogênica visão.
Vislumbro as noites gaúchas
de invernia no meu pago
onde o vento busca estrelas
florescidas na geada,
e até a própria natureza
se veste pra esta lida.
No véu de gelo que acalma
eu enxergo minha alma
sobre o campo refletida.
Arrasto a espora de ferro
com o papagaio comprido,
que abriga abrindo sulcos
sobre a dobra do chapéu,
abro as asas do meu poncho
que na baeta encarnada
traz o calor do braseiro,
e este abraço campeiro
na vida, não troco por nada.
O relincho da potrada
e os berros da gadaria,
acordando as manhãs frias
prenhes de planos e quimeras.
Uma tropilha de versos
cavalga a imaginação,
e um mate gordo de espera
pra aguardar a primavera
vir trançar a inspiração.
É tudo o que eu quis na vida,
pois nunca pedi riqueza,
e estas coisas que tenho
até são muitas pra mim..
Minha fortuna são sonhos
que semeio em minha voz,
é o profundo esperancear
de poder tudo mudar
pra os que vierem após.
Meu mundo, meados de junho,
chega-se ao tempo que espero.
Tempo de agradar a alma,
de reforçar sentimentos,
de renovar esperanças
e entender mais a vida.
Tempo de ser mais fraterno
e da paz ser oriundo,
divagando em meu mundo
pelos meados do inverno.