DESALENTO

Carlos E. Costa da Silva

 

Não vejo tropas nos campos

e os matizes das divisas

trazem arames partidos

e moerões apodrecidos

atirados pelo chão.

Que cena fantasmagórica

pra quem se criou na lida,

e agora implora pra vida

somente uma solução.

 

A cor da desesperança

prolifera em mal-me-queres

que tomam conta de tudo

junto com os “gravata”

e, o quero-quero, num grito,

abre o peito em soflagrante,

refletindo as angústias

de quem partiu de repente:

Quero-quero igualdade,

sem mendigar na cidade

meu direito de ser gente.

 

Não vejo homens nos campos,

e nem quem puxe os arados,

galpões abandonados

de portas, braços abertos,

mostrando a alma deserta,

os pelegos atirados,

os laços arrebentados

e os arreios ressequidos;

mas um vento ainda sopra,

tentando atiçar as brasas

que já são cinzas de adeus,

e o resquício do telhado

bate o zinco com porfia,

qual coração em agonia

relembrando o passado.

 

Partiram os campesinos,

porque o apelo da terra

a muito se fez calado

na ferrugem das enxadas.

Porque o lema de igualdade

que figura na bandeira

é só pra pautear discurso

e arrebanhar eleições,

e ainda há desordeiros

que invadam terras alheias

e ganham tudo no más,

e os políticos, senhores

que da esquerda aparecem,

projetam invasões e esquecem

pequenos agricultores,

não vejo esperança

nos olhares das pessoas,

que vagam qual tropas magras

abandonadas pela ânsia

de campear melhores dias.

Gente que em reculota

busca além um sinuelo

pra repontar o apelo,

de não ver a 1ª cria.

 

Já não vejo esperança,

a cor da desesperança.

Não vejo tropas nos campos,

não vejo homens nos campos.

Liberdade, Igualdade, Humanidade

ou viver suplicando dignidade,

qual será senhores nosso destino.