DAS LIÇÕES QUE O CAMPO NOS DÁ
Carlos Eugênio C. da Silva
Campo grande qual tapete
verdeando o campo
do pago,
ao longe o vulto imponente
de uma figueira grandiosa
faz sombra pra casa velha
emanar hospitalidade.
No galpão o trafugueiro
sustenta o braseiro ardente
num guapo fogo de chão
e o gato mui preguiçoso,
co’a estampa de
Siamês
se atira sobre os pelegos
tomando conta de tudo,
desempenhando função
enquanto a fiel cachorrada
na reculuta ou tropeada
faz companhia pro patrão.
São semblantes que emolduram
a riqueza da querência,
cenas que trazem a essência
de um viver na campanha,
de um viver de sacrifícios,
responsabilidades, honradez
e acima de tudo
a consciência que encerra
coisas escassas no mundo,
tais qual o amor profundo
e respeito pela terra.
Que lições nos dá o campo
em sua simplicidade,
talvez por ser sintonia
com o Patrão Celestial
e o contacto direto
com as coisas que ele criou;
Por isso, Deus abençoou
fazendo do campo e
das coisas do campo
um reflexo no céu,
um poncho verde exalando
a aurora de sua luz,
pois neste cenário agreste,
Maria, Prenda Celeste
pariu o piá Jesus.
Pena que ainda existe alguns
que não crêem nesta verdade,
ou então não querem crer.
Criticam
campeiro, renegam passado,
esquecem da história que
em tempos remotos viveram seus pais,
e bateram no peito.
Porém na clausura dos
laboratórios
inventam ovelhas, coelhos, sementes,
as coisas do campo
que o Onipotente, perfeitas nos dá,
Ah! gente
infeliz.
Não crêem na terra que dá o
sustento,
são folhas ao vento
gente sem raiz.
Há falta de crença
nas coisas sagradas,
falta de esperança, confiança até,
a tecnologia converteu ateus
e agora é o Deus
dos que não tem fé.
Tomara que nunca se atrevam
os infames
a tentar criar o campo.
Talvez consigam criar a
grandiosidade da figueira
mas não conseguirão copiar sua simplicidade.
Construam talvez, coisas
imensas, nobres mansões,
mas nunca copiarão a hospitalidade dos velhos galpões.
Talvez produzam o fogo, o
gato, a cachorrada,
mas jamais chegarão ao amor e a fidelidade
deles á seu dono.
Tentarão copiar a natureza,
com parcos gramados,
pobres árvores, escassos pássaros sem voz pra cantar,
mas nunca chegarão ás lições que o campo vive a nos
ensinar.
Depois de tudo isso, talvez copiem o homem.
Mas sem a simplicidade da
figueira,
a hospitalidade do galpão, a fidelidade dos animais
e as lições que o campo nos dá
pra vida encontrar debuxo
farão clones, simples homens
jamais farão o gaúcho.