A QUEM DESCONHECE A ÉCLOGA DA TERRA
Carlos Eugênio Costa da Silva “Vacaria”
CTG Coronel Thomaz Luiz Osório – Pelotas
2º LUGAR Concurso Literário ENART 2002
O campo vasto com
pastagem intensa
E o gado gordo alicerçava as platas;
A propriedade era respeitada
E as pessoas eram mais
sensatas.
Um tempo antigo, de antigos
anseios,
E pela lida o homem se
forjava,
A terra fértil a fome
sufocava
Ao se render a razão da
enxada.
A esperança pelo dia-a-dia
Brotava forte, com tons de
porfia,
Pra que ninguém se bandeasse
pra estrada.
Um tempo antigo, aonde o respeito
Em tudo e em todos estava
presente,
Se
apresentava de modo inerente
Com a moral e a honestidade;
Apreço o homem tinha na
palavra,
E este sim, era a maior lavra
De sua honra e dignidade.
Até as casas eram diferentes,
Varandas grandes, bacias de
cobre,
Janelas largas que
emolduravam
Paisagens ricas de semblantes
nobres.
Guardava inclusa em suas
entranhas
Valores santos da eterna
família,
Simples exemplos pra quem
segue a trilha
Na retidão buscando se
espelhar.
A alma imensa, ainda de
criança,
E pelas peças saudosas
lembranças
Dos que partiram pra não mais
voltar.
A gritaria vã do piazedo
Fazia eco na melancolia,
E as geadas pelas manhãs
frias
Se
amenizava num mate buerano.
O Pai e a Mãe os filhos
educavam
E deste modo a índole formavam
Valorizando o amor ao ser
humano.
A natureza trazia a imagem
E a arquitetura de um Deus
Patrão
E renovava toda a redenção
Com bênçãos dadas pelo Pai
Notório,
Havia respeito pelo que é
sagrado
E tudo isso era reverenciado;
Nada era feito em
laboratório.
O vento ameno soprava
segredos,
Cantos silvestres de alma
singela
E, a ternura abria cancelas
Como quem abre um grande
coração;
A amizade era uma prova dada
De que a pessoa era
valorizada,
Não pelas posses, mas por
afeição.
Um tempo antigo, de antigos anseios
Que se perderam pelos
corredores,
Porque o mundo buscando
progresso
Desfez idílios e inverteu
valores.
Pena que as coisas tenham
regredido
Fazendo a vida entenebrecer
E até o direito que assiste o
ser
Tem dependência na ação da
sorte.
O tempo farto já não mais
cintila
E o campo vasto
transformou-se em vila
Pros que campeiam sem rumo e
sem norte.
A urbanidade reflete as
tristezas
Que o ruralismo vem se
deparando,
Tropas de gente as ruas
habitando
Sem que uma
mão venham lhes estender,
Só falam agora em tecnologia
E o homem simples vive em
agonia
Juntando lixo pra sobreviver.
O campo era vasto com
pastagem intensa
E o gado gordo alicerçava as platas;
A propriedade era respeitada
E as pessoas eram mais sensatas.
Mas saibam senhores, donos do
progresso,
Que nos ensina coisas a vivência
E prova disso é a consciência
De preservar nossos verdes
matizes.
Saibam que o simples uma
riqueza encerra
E aprendam senhores, que o
respeito a terra
É reverência as próprias raízes.