QUANDO EU ME FOR
Carlos André Siqueira
No dia em que eu me for
Não quero choro nem vela
Quero um brazedo queimando
Um lampião na janela
Um churrasco bem campeiro
Carreteiro na panela
Quero que velem meu corpo
Num ranchito sem tramela
No dia em que eu me for
Que a memória seja acesa
Quero que lembrem de mim
Das histórias e proezas
Esquecendo as coisas más
Mas sem esquecer as belezas
Lembrar da felicidade
Deixando de lado a tristeza
No dia em que eu me for
Não quero enterro de luxo
Quero um gaiteiro tocando
Gastando qualquer cartucho
Quero uma viola chorando
Agüentando firme o repuxo
Quero escrito em meu túmulo
Aqui descansa um gaúcho
No dia em que eu me for
É isso que estou pedindo
Meus amigos todos juntos
As prendas todas sorrindo
Quero um rodeio de trovas
Dizendo que estou partindo
E ao redor do meu caixão
Eu quero um cusco latindo
No dia em que eu me for
Quero um barulho bem grande
Não quero que façam silêncio
Essa minha idéia se expande
Eu quero tombar peleando
E não importa onde eu ande
Vou defender minha pátria
E enaltecer meu Rio Grande
No dia em que eu me for
Um pedido faço agora
Me enterrem de bombacha
Guaiaca, lenço e espora
Pois quero chegar no céu
Bem ligeiro, sem demora
Para ser abençoado
Por Deus e Nossa senhora
No dia em que eu me for
Vai comigo a recordação
Do sorriso da prenda amada
Que me trouxe expiração
Da minha família querida
Que guardo no coração
E jamais vou esquecer
Das coisas do meu rincão
E agora a todos eu peço
Que me façam este favor
Pois tudo que conquistei
Consegui com muito ardor
E quero levar comigo
Tudo o que tem seu valor
Só não levarei a tristeza
No dia em que eu me for