A ÚLTIMA GINETEADA
Carlos André Siqueira
Nascido e criado no campo
Desde os tempos de menino
Não sabia seu destino
Mas tinha um ideal
De fazer qualquer bagual
Solto no campo à fora
Conhecer a sua espora
Pelego, maneia e buçal
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Era um índio de coragem
Gaúcho mui barbaridade
Não conhecia a maldade
E nem o tal do rancor
Lutava com muito ardor
Para ver feliz o pai
Que dizia, um dia tu vai
Ser um grande montador
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E em todos os rodeios
Lá estava ele presente
Sempre disposto e valente
No meio da gauchada
Gostava de uma gauderiada
E de um cavalo bem xinxado
Por todos era chamado
O taura da gineteada
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A guaiaca foi enchendo
E a vida foi melhorando
E os pais se orgulhando
Do filho, fiel herdeiro
Chegava sempre em primeiro
E agora tinha importância
Pois de simples peão de
estância
Passou a ser fazendeiro
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Em todo baile que chegava
As prendas se ouriçavam
Até as véias se assanhavam
Pra ser o par do peão
E sem frouxar o garrão
O cuera não se entregava
E no momento só pensava
Em ser de novo o campeão
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Tinha tudo o que queria
Só uma coisa lhe faltava
Aquilo o incomodava
Mais do que uma ventania
Queria ter ele a alegria
E poder sentir a emoção
De sair de troféu na mão
No rodeio da Vacaria
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Quando saí pra estrada
Era tudo organizado
Pois tinha no seu costado
Seu amigo companheiro
O pai um grande guerreiro
Que vibrava a cada vitória
Ajudando escrever a história
Deste ginete campeiro
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E chegado o tal rodeio
Que tanto ele esperava
O mesmo se preparava
Quando a noticia correu
O seu corpo estremeceu
Quando a mãe veio avisar
Tu vai ter que te virar
Pois teu pai adoeceu
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E lá se foi o ginete
Sem o seu anjo da guarda
Sabia que algo faltava
Era grande a judiação
E aquele valente peão
As lágrimas não escondia
E no momento só sentia
Um aperto no coração
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Chegando na grande festa
E o sorteio já foi feito
Cavalo de nome Estreito
Sua primeira montaria
Animal que mais corria
Ao invés de veiaquear
Mas tudo neste lugar
Quase, de nada valia
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E ali sentado na mangueira
Sentiu no peito um laçaço
E aquele forte guascaço
Que quase o derrubou
Foi quando alguém avisou
O teu pai não teve sorte
Lutou contra a própria morte
Mas o destino o levou
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Nada tinha mais valor
O sonho havia acabado
Se sentia um derrotado
Não queira mais montar
Pois quando foi se virar
Ficou um tanto assustado
Se encontrava bem ao lado
A mãe querendo falar
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Meu filho teu pai se foi
Mas deixou este pedido
Seja sempre destemido
Que eu estou a te assistir
Quero do céu aplaudir
A tua vitória baguala
Porque xirú da tua iguala
Jamais há de existir
E conforme pediu o pai
O taura não desistiu
Montou o cavalo e sorriu
E foi vencendo o animal
Pois ginete que é bagual
Nunca abandona sua lida
E pra alegria da torcida
Chegou na grande final
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E o troço ficou medonho
Quando sortearam o cuiudo
Cavalo mui topetudo
Este bicho tem história
Está gravado na memória
Algum fato que ocorreu
De ginete que morreu
Tentando esta vitória
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E a coisa ficou muita feia
Quando o bicho corcoveou
Dois, três metros levantou
Parecia uma tormenta
Saltava fogo das ventas
E após lhe dar um tombo
Deixou marcado seu lombo
E a cara toda sangrenta
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Quando do chão levantou
Sabia não estava sozinho
Sentia ali seu paizinho
Bem de fronte a invernada
A vitória foi anunciada
Pra alegria da mãe querida
Esta foi sua despedida
E a última gineteada