Sob a Luz do Entardecer...
Bianca Bergmann
A
canção da saparia vem acordar o silêncio
Que adormecido pousava nos confins
desses rincões
Ao findar a lida, os peões
voltam pro rancho
A bicharada ao tranquito
se recolhe nos galpões
E a gurizada teimosa abre carreira correndo
Quando a mãe se pega aos gritos
pra que saiam
do sereno
E eu novamente aqui...
Por mais um dia contemplando o sol
Que mergulha calmamente no mar azul da imensidão.
Quisera ser pescador nesse instante pra lhe jogar
um anzol
Fisgar e puxar com força pra ele
voltar pro céu
Não gosto do entardecer, pois ele me traz lembranças
E lembranças são amargas a quem não resta esperança
Perder o sentido pra gente que
outrora tão bem lhe quis
Eu muito cantei pro sol nos tempos de antigamente
Pois os meus olhos tão
tolos, sonhavam me ver feliz
Mas ser feliz não é tudo, eu
fui e nada adiantou
Pois hoje se faz doída, essa
saudade bandida que restou
A canção da saparia
vai se estendendo nas
horas
Sob a luz do entardecer
sinto que saio de mim
Te procuro pelos campos
e adentro a noite morna
Pra comprovar outra vez, que
tudo que é bom tem fim
Final... Sem final feliz,
disso eu sei, não tem mais jeito
O problema é convencer o amor que mora
no peito
Se sonhos caem de mim
Pois não se firmam nos galhos
da arvore seca que sou
Não gosto do entardecer, porque me lembro de ti...
Porque me deixaste aqui?
Tu não tinhas
o direito!
Plantar amor em meu
peito, e simplesmente fugir
Morrer... sem
se despedir, foi teu único defeito
Mas foi o maior de todos e este não
tem perdão
Pois não cumpristes as juras que me fez teu coração
De nunca me abandonar, jamais me deixar sozinha
E agora a vida madrinha me presenteia dois filhos
Que vão crescendo em meu ventre
Um poema inacabado que eu herdei
dos teus carinhos
Eles seguirão comigo e pela estrada que se vai
Vou pensando o que dizer se perguntarem
do pai
Talvez eu conte a verdade, talvez eu minta...
quem sabe?!
Escolherei a verdade menos sofrida pra
eles
Pois se eu disser que partiu,
vão perguntar da guitarra
Que ainda te espera
na sala, emudecida na parede...
Eles verão o teu poncho, teus arreios, teus avios
Nisso nem quero pensar, pois
me causam arrepios
Sob a luz do entardecer
vou remoendo meus medos
A voz do vento sussurra,
o tempo me pede calma
A canção da saparia
já orquestrou meu segredos
Agora
O sol se foi no horizonte, desceu um véu estrelado
E eu aqui,
Me perdoa meu amor,
se não perdôo a partida
Mas a dor da despedida seria
menos latente
Do que o vazio que
deixaste invadindo minha vida
Em cada ausência sentida por meu coração
doente
Sob a luz do entardecer
eu busco os olhos teus
Mas