Pra Onde Foram as Borboletas?!
Bianca Bergmamm
Minhas tardes quentes
Nos verões da infância!
Com rosetas nos pés
e um mundo nas mãos...
Feito de sabugos e gado de osso
No meu sonho moço
feito de amplidão.
Tinham borboletas a voar nos campos,
Enfeitando as tardes que já eram
belas;
E os olhos ligeiros
de um piazito arteiro,
Com uma rede em
punho a correr com elas...
Tinham sangas... Sucos de laranja...
Nuvens bailarinas a dançar no céu...
Também muitas lágrimas com sabor de tombo,
Sombras de cinamomos... Barcos de papel...
Tinham linhas finas de subir pandorgas
Á
infinitos raros, quase virtuais.
E também caniços de pescar quimeras,
Nas barrancas velhas, junto com meu pai...
Ah... Eram mesmo lindas essas tardes!
Hoje uma saudade rebrotando mansa
Neste peito velho, quase centenário,
Vem trazer recuerdos de um tempo ido...
A tanto perdido... Que hoje é só
cenário,
Um moço estradeiro e um velho solitário...
A memória quase não
ajuda...
E mistura histórias, recriando cenas
Que nem sei ao certo
se aconteceram.
Porém as imagens gravadas nos olhos,
Vem lembrar tristezas, que jamais partiram...
“-
A vida sofre uma grande metamorfose!
Nela tudo muda, tu verás
meu filho!
Aproveita bem os tempos de criança,
Faz da esperança o teu maior abrigo.
Aproveita as tardes e as borboletas,
Quando fores velho, elas terão
sentido!”
Esse era o conselho que meu pai
me dava,
Pelas pescarias no
E eu não escutava,
nem dava atenção,
Porém vejo agora... Ele tinha razão!
Mas eu queria
crescer logo...
Ser um carreteiro...
Andar com as rodas da minha carreta...
Ser igual a ele
era o que buscava
E não me importava com as borboletas...
Eu sabia que rosetas doíam
nos pés...
Que sabugos coçavam nas mãos...
Que as nuvens passavam...
E as sangas corriam...
Porém não sabia
Que barcos naufragavam...
Que os homens mudavam...
E que os pais
morriam...
Sim eu cresci...
Mudei meu rosto... Mudei por inteiro...
Um moço estradeiro a encurtar distancias
E a provar o gosto, de suas próprias ânsias...
Os filhos não vieram
por falta de tempo...
E em algum momento
o amor partiu...
Só deixou retratos a enfeitar
paredes,
Nas molduras gastas de um coração vazio...
É... Eu fui sim
um carreteiro!
Varei madrugadas transportando sonhos...
Minhas borboletas ficaram no passado.
Por traz das cortinas de um céu nublado...
Quando me dei conta,
Estava aqui olhando ao longe...
Rebuscando histórias de um
tempo ido...
A tanto perdido que
hoje é só cenário,
Um
moço estradeiro e um velho solitário.
Relembrando os dias dos verões
criança
Vejo a importância que a infância tem.
E que as borboletas enfeitando as tardes,
São as majestades de
um reino além...
Além da esperança e muito além dos sonhos...
E assim para o mundo
de qualquer adulto,
Muito além do alcance dos seus próprios olhos.
Nós crescemos, elas partem...
Pra enfeitar as tardes de algum outro ser.
Talvez sejam elas a esperança
viva,
Que nuvens bailarinas não permitem ver.
Ah
Com rosetas nos pés
e um mundo nas mãos...
Feito de sabugos e gado de osso,
No meu sonho moço,
feito de amplidão...
Juro... Se eu pudesse voltaria o tempo
E
daria ouvidos aos conselhos bons.
Cresceria sim, mas no tempo certo;
Com o peito aberto e desvendando os dons...
Já na
mocidade voltaria sempre,
E encontraria tempo para os filhos,
Semeando o ventre do meu grande amor.
Esses piazitos me dariam netos...
E hoje eu não
seria este
homem só.
Rebuscando histórias de um
tempo ido...
Que ainda é tão doido, mesmo
sendo pó.
Eu seria parte de algum sonho novo...
Contaria histórias da velha
carreta...
E nos olhos dos netos
voltaria ao mundo,