A CAIXA DOS SONHOS
DESFEITOS
Bianca Bergman e Carlos Omar Villela Gomes
Quando eu abri os meus olhos
E enfim notei esse mundo,
Tinha ânsias de saber,
De onde vinham os ventos?!
Essas coisas de criança,
Que ao mirar a lavoura
Vê a linhaça dançando
Um chamamé
compassado,
Ou uma valsa dolente,
Com um parceiro invisível....
E que ao correr mais um
pouco,
Logo ali, além do açude,
Percebe a seda do trigo,
Fazendo ondas e voltas;
Redesenhando as paisagens,
Das tardes mansas de
outubro.
Não! Não era pergunta simples.
Mas eu ganhava respostas...
E a cada uma que tinha,
Eu projetava em silêncio,
As imagens mais bonitas
Que já pudera criar.
Porém sempre me enganavam...
E por mais que se
esforçassem,
“De onde vinham os ventos?”
Ninguém sabia explicar.
Então eu imaginei...
Então eu criei respostas!
Os meus olhos de criança,
Viam além desses campos.
Acima dos cinamomos
Eu via as nuvens dançando,
Girando suas saias longas
Em belos redemoinhos.
Uma vez até vi anjos
Batendo asas na rua...
Buscando levar bem longe
Puras mensagens de Deus.
Mas pelas noites de chuva,
Eram as bruxas que vinham,
Trazendo suas vassouras,
Para despir num segundo
As vestes verdes do mundo,
Jogando as folhas no chão.
E assim passei tanto tempo.
E assim passei tantas
luas...
Criando sonhos, imagens,
Inventando mil lembranças
E descobrindo caminhos
Que ninguém mais conhecia.
Mas o tempo sempre passa
E ele passou pra mim.
Sofri pealos
e tombos,
Mas sempre me levantei.
O medo de perder tudo,
Me fez buscar uma caixa
Para esconder meus tesouros.
E foi aqui, no meu peito
Que por vontade e direito,
Cada
momento guardei.
Minha “caixa de pandora”
Não guarda ouro, nem
monstros.
Meus tesouros nada são
Além de sonhos desfeitos...
Realidades voláteis,
Fantasias de criança...
E a doçura das lembranças
Que um dia eu mesmo
inventei.
Quando eu abri os meus olhos
E enfim notei esse mundo,
Tinha ânsias de saber:
De onde vinham os ventos?!
Hoje eu conheço a verdade
Meteorológica e fria,
E esta já não importa.
Importa mesmo é o que tenho
Guardado aqui no meu peito.
Projetando nos meus olhos,
As imagens mais bonitas...
As linhaças bailarinas,
A seda leve do trigo...
E o sonho, parceiro antigo,
Que nunca zombou de mim.
Pois cada sonho “desfeito”
Nada mais é que saudade...
Saudade de um tempo lindo
E que jamais terá fim.
A minha infância era assim,
Guardo na caixa os
momentos...
Mas de onde vinham os
ventos?
Vinham do amor de onde eu vim!