VOLUNTÁRIO
Ari Pinheiro
Meus olhos de vira mundo
“Viramundeiam” amplidões
Perscrutam as vastidões
Em busca de desafios
Juntam nuvens, vazam rios,
Se alvoroçam e se amansam,
São labaredas que dançam
Nas noites frias de egada
Sempre espiando a estrada
Mesmo enquanto Descansam!
Por isso peço licença
Para sentar-me, senhores,
À roda dos esclarecedores
Para explicar meu dialeto
Sou da terra de Zeca Neto
Guerreiro desde menino
Riscando a ponta de lança
O debuxo do chão sulino
Sou neto do Venceslau
“Assombro do Virgulino!”
Com jeito de sôrro alçado
E baldas de redomão
Sou sobra da geração
Que não conheceu receio
E sem largar dos arreios
Foi engolindo distâncias
Rédeas soltas para as ânsias
Demarcando o pago inteiro
Meninos-homens guerreiros
Sem tempo de ter infância...
Por isso trago miradas
De mil arroios e fontes
Meu hoje começou ontem
Quando o Rio Grande era piá
E do Uruguai para cá
Eu sou um dos mandatários
Os mangrulhos solitários
Herdeiros daquela gente
Que nos plasmou no continente
Com alma de guardatários...
E talvez seja por isso
Que não sei ficar parado
Como potro palanqueado
Na sombra ao redor das casas
Se trago olhos em brasa
Sob uma fronte crispada
É porque uma clarinada
Pode ecoar de repente
Convocando novamente
Meu corpo, pingo e espada!
E mesmo que a guerra não venha
Manchar o ventre da pampa
Não relaxo a minha estampa
Não bocejo nem dormito
Pois para mim basta um grito
Que já me encontro montado
De prontidão, perfilado,
Esperando as ordenanças
Com adaga, garrucha e lança,
Pra defender meu estado...