RONDA

Arabi Rodrigues

 

Nasci na copa de um cerro

Num velho rancho crioulo

De pau-a-pique e tijolo

Na beira d’um corredor

Me batizaram, cantor,

Na catedral do relento

P’ra cantar dom sentimento

A terra do campeador.

 

Apartei tropas de sonho

Vendi na casa dos nobres,

Rezei na mesa dos pobres

Da velha pampa galharda

A onde o chiru, de farda,

Defendendo os Farroupilhas,

Esparramou nas coxilhas

Ideais que o povo guarda.

 

Num petiço de taquara,

Parei rodeio nas trevas,

No cerro das arumbevas

Bebi água de vertente.

Com papai - meu confidente,

Aprendi guardar segredo

E medo de não ter medo

Que conservo no presente.

 

Naquele tempo a palavra

Valia por documento

E no mesmo acampamento

Mateavam pobres e ricos,

Doutores, pobres e milicos,

Na mais perfeita harmonia,

Enquanto a vida sorria

Na copada dos angicos.

 

A coragem e o bom senso

Sentavam no mesmo trono

Justiça não tinha dono!

Churrasco ninguém cobrava

Quando a lua bocejava,

De sábado para domingo,

Era só dar rédeas ao pingo

Que diversão não faltava.

 

Porém os tempos mudaram

O rumo da minha prece!

Mas o verso permanece

Sempre matreiro e bravio.

Cantando no rancherio

Pelo guitarreiro e a china,

Como fonte cristalina

Que o tempo não poluiu!

 

Rondando meu sentimento

Andei d’um lado pro outro,

Quebrando queixo de potro

Tirando balda de china.

Tudo que Deus determina,

Ninguém tira nem afasta

Eu sou gaúcho- e me basta

P’ra ser maior que doutrina!