PASTOREIO
Arabi Rodrigues
Quando o dia se desmancha
Reparte o mundo no meio
E o negro do Pastoreio
Vem rondar o chão pampeano.
É lindo ver o Minuano
Orquestrando na coxilha
O velho hino Farroupilha
Sobre a pira da querência
Trilogia de sapiência:
Honra, direito e dever,
Fazendo a gente tremer
No tribunal da consciência.
Esse pedaço de mundo
Que o brado canta e venera
Constrito se desespera
Nesta vasta soledade
-Proclamando a liberdade
Revive lições amargas
A fibra dos abas largas
Na canção que o povo entoa
Parece que o tempo voa
E a natureza soluça
Quando a lua se debruça
No manancial da lagoa.
Revejo Lopes de Souza
À deriva marejando
Gomes Freire demarcando
O mapa do continente
Renascendo no presente
Tyarayu- pajé ou Santo?
Pedroso, Borges do Canto,
Nas colinas de Ronda Alta
Mas quando a musa me assalta
A confiança se redobra
Faço de conta que sobra
Tudo aquilo que me falta.
Quem dera meu Deus, quem dera,
Viver o mundo que canto
E poder conter o pranto
Dos que não podem falar
Dos que não sabem cantar
E nem conseguem sorrir
Os que não querem ouvir
Não tem nada pra dizer,
Quem quiser me compreender
Grave bem essa receita
O que dou com a mão direita
Não deixo a esquerda saber.