MANGUEIRA ASSOMBRADA

Arabi Rodrigues

 

Velha mangueira crioula

De pedra moura amontoada,

Tu, cerca abagualada,

É marco da história viva,

Trabalho da mão cativa!

Imponente fortaleza!

Testemunha da vileza

Da nossa lei primitiva.

 

Plantada à copa de um cerro,

Formando argola d’um laço,

Guardas contigo um pedaço

Do Rio Grande primitivo!

Parece um triste castigo,

Rezando dentro da noite

E gemendo a dor do açoite

Do beleguim agressivo!

 

Quando a lua se adelgaça,

Ressurge o terror do assombro,

Adejando pelo escombro

Da velha cerca de pedra!

É o negrinho que medra

Sobre o palanque fincado.

Vagueia desorientado,

Picando um naco de fumo,

Por já ter perdido o rumo

Do lugar onde foi criado!

 

O pobre duende sofrido,

Que na coxilha aparece,

É o piá que não esquece

Da injustiça cometida.

Trabalhou e deu a vida

Pelo |Pampa Riograndense.

E tudo que lhe pertence

Naquele cerro se aquieta.

Ressurgecomo profeta,

Rememorando a tragédia,

Galopando a toda rédea

À inspiração do poeta!