BAILE DE RANCHO

Arabi Rodrigues

 

O rancho já tava cheio,

Quando cheguei no fandango.

Arqueava a gaita num tango

Naquela noite de maio.

Boleei a perna do baio,

Ouvindo longe a guitarra.

Mais alegre que cigarra

Fui chegando p’ra fusarca

Como gaudério monarca

Disposto a cair na farra.

 

Vi de pronto que não era

Baile que dança família.

Não formava uma tropilha

Com cinco do mesmo pelo.

Não se tirava um sinuelo

P’ra acolherar um matreiro.

Era tão grande o intreveiro

Formado naquela noite

Parecia a velha boite

Que conheci no povoeiro.

 

Foi me chegando pra porta

Do biungo que tava em festa,

Tapeei o chapéu na testa,

Perguntei- Quanto se paga?

-Gritaram, não tem mais vaga,

Ta cheio o rancho, paisano!

Me fiz de “chancho” cabano

Que não respeita alambrado.

Sempre fui desaforado

Arisco e meio aragano.

 

Entrei levando por diate:

Porteiro, porta e tapume,

Sempre tive por costume

Não dar volta de porteira.

E não é qualquer porqueira

Que me faz perder a fala.

Fui parar dentro da sala

Grudado numa pinguancha

E saí abrindo cancha

Co’as franjas do velho pala.

 

Já vi cochicho das velhas,

Chamando as filhas pro quarto.

E velhos que nem lagarto

Carrancudo, retesado,

Me bombiando atravessado,

Como quem diz: que bonito!

Mas nunca corri de grito,

Cara feia não me assusta.

P’ra mim o que menos custa

É dar rodeio, solito.

 

Sendo preciso, defendo,

A mais antiga das leis.

Saí batendo com seis

Defendendo a passarinha,

Na cruzada p’ra cozinha,

Já vi sangue e gente morta.

-Um chiru quase me corta,

Passou raspando na güela.

Ameacei ir na janela

E o “gajo” clareou a porta.

 

No grito de “bamo embora”

Saí de luz destapada.

Aquilo foi uma zuada.

Parecia mamangava.

-Quanto mais me distanciava

Mais perto me parecia.

Já tava clareando o dia

Quando saí na faxina.

Botei na garupa a china

E me mandei “a lá cria”...