ROMANCINHO

Apparício Silva Rillo

 


Mirava a lua no açude.
E quando n'água bulia
a lua toda de prata
toda em prata se partia.

E ele ria, ria e ria...

Era louquinho, o guri.
Não vinha bulha por si
senão quando, em noite clara,
lá na lança das taquaras
se espetava a lua cheia.

E quando a lua, serena,
vinha banhar-se no açude,
já o encontrava na taipa
crucificado de frio.

Não tinha engodo nem ralho
que o arrancassem dali.
A mãe cansava, e se ia.
E a gaita da saparia
se cortava quando ria
seu riso claro, o guri.

E brincava noite a dentro
de quebrar a luta em prata.
Brincava
até que dormia.
E então a lua se ia
devagarzito dali,
pra se banhar noutro açude,
brincar com outro guri.

Uma noite o gurizito
grudou no sono, mui rente
das bordas falsas da taipa.
Caiu n'água e se afogou.
Foi esta a vez derradeira
que a luta toda de prata
toda em prata se quebrou...