PINHO VELHO
Apparício Silva Rillo
Pinho
velho, empoeirado,
escutei
neste momento
as notas
que a mão do vento
te
surrupiou ao passar.
Canta,
mas canta sozinho,
porque
teu dono, meu pinho,
nunca
mais há de cantar.
Canta,
canta pinho amigo,
deixa que
o vento de abrace.
É o
minuano? pois que passe,
quem
canta não sente frio!
Canta,
consola teu dono,
faz que
não sente o abandono
de nosso
rancho vazio.
Canta,
mas canta baixinho...
Que
neste rancho enlutado
mal se
escute o teu ponteado,
meu
inquieto violão.
Respeita
a dor do meu luto,
se de
ouvido não te escuto,
te escuto
de coração.
Repara
só, velho pinho,
como o
destino da gente
desembesta
de repente,
rebenta o
freio e se vai!
Toma
sempre o pior trilho,
e a gente
sobre o lombilho
vai
sofrendo, cai-não-cai...
Procuro
agüentar o tranco
mas me
achico pra lembrança
sempre
que beijo esta trança
sedosa,
que conservou,
a graça,
o viço e o perfume
daquela
que por ciúme
Nosso
Senhor me roubou.
Meu
pinho, por que calaste?
Canta
de novo, meu pinho!
Teu
dono fala sozinho
por não
poder mais cantar.
Quem
tem mágoas na garganta
chora,
pensando que canta,
cantando
pra não chorar!