PETIÇO VELHO
Autor: Apparicio Silva Rillo
Este petiço,
veterano aqui da estância,
foi o meu pingo de infância,
meu orgulho de guri.
Crescemos juntos,
nos criamos lado a lado,
mas ele contou dobrado
os anos que eu já
vivi.
Caramba!
esta velho o meu petiço.
Tem nas pupilas cansadas
que olham para o vazio,
tristezas de águas paradas
de um cotovelo de rio.
Petiço velho!
foi de cima de teu lombo
que há muitos anos atrás,
caí meu primeiro tombo
no meio dos gravatás.
E enquanto cheio de espinho
me levantava do chão,
no teu olhar surpreendido
havia um manso pedido
de desculpa e de perdão.
Quanta carreira embrulhada
na cancha reta da estrada
tu me fizeste ganhar!
Quanta tropa de mentira
repontei estrada afora
te cutucando com a espora
nervosa do calcanhar...
Petiço velho!
tua última carreira
pouco a pouco se aproxima,
e o piá não vai em cima
pra levar-te ao vencedor.
Não corras muito
porque a carreira é perdida...
Na califórnia da Vida
onde o destino maneja
cancha de osso é carpeta,
um peticinho maceta
quando se topa com a morte
não clava nenhuma sorte
por mais taura que seja!