Pesca
Apparício
Silva Rillo
Na estreita da canoa a linha
longa.
Nela o anzol - garra na sombra líquida
O remeiro e seu ofício de paciência
Súbita,
A mensagem dos dentes que abocanham
A mão galopeia,
A fisga ferra fundo.
As barbatanas resistem,
Frágeis asas.
O nado para o alto, a cola que espadana,
A guelra asfante, rubra como um talho.
A morte que se entranha nas escamas.
Ágil, a faca!
A chispa na madeira, a chama brava
Carne de rósea polpa, em sal e brasas
A piava de prata faz-se pão.
No Bolicho
Apparicio Silva Rillo
Traga de vez a garrafa,
bolicheiro! me despacha,
que hoje no mais se emborracha
quem nunca se emborrachou.
Quero beber no gargalo
para esquecer o pialo
que o tal de amor me atirou.
Sou índio duro de queda
mas fui pegado de jeito.
Bateu-me a argola no peito
e ali no mais me planchei.
Sempre fui solto de pata
mas nessa volteada ingrata
num tacuru tropecei!
Sucede que eu não sabia
quanta manha se requer
pra se correr com mulher
na cancha reta do amor.
Desci confiado pra raia...
Perdi pro rabo de saia
sem sair do partidor!
Caí no tiro de laço
de um olhar de china atrevida,
que embuçalou minha vida
na armada negra das tranças,
pra depois de ter-me preso
marcar-me com seu desprezo
na picanha da esperança.
Desprezo não há quem cure,
não há remédio que impeça,
não há reza, nem promessa
que lhe conserte o estrago.
Por isso, seu boiicheiro,
pra aparceirar o primeiro
ponha no mais outro trago!